4º Pedido do Pai-Nosso: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
Vamos resumir ao máximo o que o Catecismo da Igreja Católica (cf. nn. 2828-2837) nos oferece de conteúdo bíblico e teológico sobre o quarto pedido ao Pai ensinado pelo Mestre da Oração, Jesus Cristo Nosso Senhor.
“Dai-nos”: Como é bela a confiança dos filhos, que tudo esperam do Pai. Dá a todos os seres vivos “de comer a seu tempo” (Salmo 104.27). É Jesus quem nos ensina esta petição que, de fato, glorifica o nosso Pai porque é o reconhecimento de quanto Ele é bom, acima de toda a bondade. “Dai-nos” é também expressão da Aliança: nós somos d’Ele e Ele é nosso, é para nós. Mas este “nós” reconhece-O também como Pai de todos os homens, e nós pedimos-Lhe por todos, solidários com as suas necessidades e os seus sofrimentos, “o pão nosso”. O Pai que nos dá a vida não pode deixar de nos dar o alimento necessário para a vida e todos os bens “convenientes”, materiais e espirituais. No sermão da montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a providência do nosso Pai. Não nos incita a qualquer espécie de passividade, mas quer libertar-nos de toda a inquietação ansiosa e de qualquer preocupação. Assim é o abandono filial dos filhos de Deus:
Mas a presença daqueles que têm fome por falta de pão revela outra profundidade desta petição. O drama da fome no mundo chama os cristãos que oram com sinceridade a assumir uma responsabilidade efetiva em relação aos seus irmãos, tanto nos seus comportamentos pessoais como na solidariedade para com a família humana. Esta petição da oração do Senhor não pode ser isolada das parábolas do pobre Lázaro e do Juízo final (cf. Mateus 25.31-46).
Tal como o fermento na massa, a novidade do Reino deve levedar a terra com o Espírito de Cristo. Há de manifestar-se pela instauração da justiça nas relações pessoais e sociais, econômicas e internacionais, sem nunca esquecer que não há nenhuma estrutura justa sem homens que queiram ser justos. Trata-se do “nosso” pão, de “um” para “muitos”. A pobreza das bem-aventuranças é a virtude da partilha. Ela convida a comunicar e a partilhar os bens materiais e espirituais, não por coação, mas por amor, para que a abundância de uns remedeie às necessidades dos outros.
“Ora e trabalha”
Orai como se tudo dependesse de Deus, e trabalhai como se tudo dependesse de vós. Isso deve ser o nosso propósito de vida. Tendo nós feito o nosso trabalho, o alimento continua a ser uma dádiva do nosso Pai; é bom pedir-Lho dando-Lhe graças por ele. Tal o sentido da bênção da mesa numa família cristã. Esta petição e a responsabilidade que comporta valem também para outra fome de que os homens morrem: “O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Deus” (Mateus 4.4), quer dizer, da sua Palavra e do seu Sopro. Os cristãos devem mobilizar todos os esforços para anunciar o Evangelho aos pobres. Há uma fome na terra que “não é fome de pão nem sede de água, mas de ouvir a Palavra do Senhor” (Amós 8.11). É por isso que o sentido especificamente cristão desta quarta petição tem a ver com o Pão da Vida: a Palavra de Deus, que deve ser acolhida na fé, e o corpo de Cristo, recebido na Eucaristia. Outra expressão “Hoje” é de confiança. É o Senhor que no-la ensina; a nossa presunção não poderia inventá-la. Tratando-se sobretudo da sua Palavra e do corpo do seu Filho, este “hoje” não é somente o do nosso tempo mortal: é o “Hoje” de Deus.
“De cada dia”
Expressão tomada num sentido temporal, é uma repetição pedagógica do “hoje” para nos confirmar numa confiança “sem reservas”. Tomada no sentido qualitativo, significa o necessário para a vida e, de um modo mais abrangente, todo o bem suficiente para a subsistência. Enfim, ligado ao antecedente, é evidente o sentido celestial: “este dia” é o do Senhor, o do banquete do Reino, antecipado na Eucaristia que é já o antegozo do Reino que vem. É por isso conveniente que a liturgia Eucarística seja celebrada em “cada dia”.