Castelos de areia
(Joceane Príamo)
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Na praia, o vento soprava forte, quase levando meus pensamentos. A maré baixa revelava uma vasta extensão de areia dourada. Ali, entre conchas e algas, crianças erguiam seus castelos com baldes e pás. Pequenas fortificações, torres imponentes, tudo feito com a esperança de desafiar a fúria das ondas. Sentada à sombra de um guarda-sol, eu observava o mar, e a ironia me atingiu. Quantas pessoas perdem o domínio da vida erguendo castelos de areia? Construções efêmeras baseadas em ilusões, que se desfazem grão a grão. Camadas de mentiras são empilhadas, disfarces e meias-verdades, na vã tentativa de criar uma realidade mais agradável aos nossos olhos ou aos olhos dos outros. Acreditamos, ingenuamente, que essa fortaleza resistirá ao tempo e às intempéries.
Algo é certo: a maré sempre sobe. E, assim como as ondas implacáveis desfazem a beleza de um castelo, a verdade sempre encontra uma forma de se manifestar. A mentira, por mais elaborada que seja, não possui a solidez da honestidade. Desmorona-se facilmente, deixando para trás apenas a desilusão e a fragilidade de uma construção efêmera numa vida sem alicerces.
Em cada torre, cada muralha, um segredo guardado e um medo sempre calado. O que os príncipes não contam é que os segredos corroem por dentro, pois sabem que o tempo é transitório e um descuido pode ser destrutível. O vislumbre encanta, enaltece, dá poder, fornece a alegria no processo, no entanto, não garante a durabilidade da construção.
Planos são construídos, sonhos são realizados, e, lá no fundo, a certeza, que tudo está sujeito à erosão do tempo e as ondas implacáveis das circunstâncias. A onda que encanta, se aproxima, lenta e inexorável. Num instante, surge o impacto, que sem piedade destrói a beleza da criação. Então, a água invade, dissolve, desfaz. O castelo se vai, levando consigo a ilusão da permanência. O fim sempre chega, um pequeno engano sobre a realidade das fachadas é insolido diante da imensidão do mar, a onda derruba as torres, desfaz os castelos. O que resta? Apenas a areia molhada, fria, a denunciar a fragilidade de construção. Por isso, não acredite que as mentiras edificam, que a falsidade protege. A verdade, tal como a maré, sempre regressa. E quando a onda quebra, a máscara cai, revelando a nudez da ilusão. Construir sobre a rocha da verdade, é o grande desafio.
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Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual.
Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Em 2024 lançou a coleção infantil As aventuras de Chiquinho Beltrão e sua turma. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.