Turismo: O que comer e beber na Espanha
A gastronomia espanhola é muito mais do que comida: é cultura, tradição e, acima de tudo, convivência.
Por Sarah Bevilaqua
A comida é uma parte tão essencial da vida na Espanha que parece até o fio que costura amizades e laços familiares.

Almoços de fim de semana com toda a família, jantares comemorativos, bares de “tapas” cheios de gente animada – comer por lá é, acima de tudo, uma forma de compartilhar momentos com os outros. Os espanhóis adoram sair para comer, e a tradição da sobremesa – aquele momento prolongado de conversa depois da refeição, acompanhado de um café ou um licor – faz com que o almoço facilmente vá até às 17h, e o jantar, até a meia-noite.
Todo mundo conhece tapas e paella, mas a culinária espanhola vai muito além disso. Cada região do país tem sua própria identidade gastronômica, com sabores únicos esperando para serem descobertos.
As tapas são a essência da cozinha espanhola – simples, feitas com ingredientes frescos e perfeitas para reunir as pessoas. A origem exata das tapas é meio nebulosa: alguns dizem que eram tampinhas colocadas sobre o copo para proteger a bebida; outros juram que foi ideia do rei Alfonso X, quando seu médico o proibiu de beber álcool sem comer algo antes. O fato é que as tapas evoluíram ao longo do tempo e hoje aparecem em milhares de versões diferentes.

Entre as tapas mais tradicionais estão as patatas bravas (cubos de batata frita com molho de tomate apimentado), a tortilla de patatas (omelete espanhola com batata), as croquetas (bolinhos fritos recheados geralmente com queijo e carne) e a ensaladilla rusa (salada de batata com atum, ovo cozido, cenoura e ervilha). Mas, muitas vezes, são as tapas mais simples, com um só ingrediente, que conquistam geral – como um prato de jamón ibérico (presunto curado espanhol), queijo Manchego ou pimientos de Padrón fritos com sal marinho.
Embora as tapas estejam em toda a Espanha, é na Andaluzia que elas brilham de verdade. E olha que tem cidades que ainda mantêm a tradição de servir tapas grátis com cada bebida – Granada é a mais famosa, mas Almería, Jaén e León também seguem com esse costume maravilhoso.
No norte da Espanha, eles criaram sua própria versão das tapas: os pintxos. Esses petiscos gourmet, junto com a impressionante quantidade de restaurantes com estrelas Michelin, transformaram o País Basco em um destino imperdível para quem ama comer bem. Os pintxos geralmente combinam dois ingredientes tradicionais (como caranguejo desfiado ou pimentão recheado com bacalhau) espetados sobre uma fatia de baguete. Mas hoje em dia eles vão muito além – pode ser um mini risoto com queijo Idiazabal, bochecha de boi cozida no vinho tinto ou camarões empanados. Um dos mais icônicos é o gilda – uma azeitona, uma anchova e uma pimenta guindilla num só palito.

A paella talvez seja o prato mais famoso da Espanha – e, se for bem feita, pode até mudar sua vida (se for mal feita, só vai te deixar triste). Regra de ouro: fuja dos restaurantes que colocam fotos da paella na porta. Normalmente, são paellas congeladas e reaquecidas. O ideal é procurar uma arrocería – restaurante especializado em pratos de arroz. Ah, e lembre-se: paella é prato de almoço. Espanhol que é espanhol não come isso no jantar.
A paella de mariscos, cheia de mexilhões, camarões e mariscos, é a queridinha atual, mas a versão original não levava frutos do mar. A paella nasceu em Valência, nas plantações de arroz próximas à Lagoa de Albufera. Era feita com o que os agricultores tinham por perto: feijão branco, coelho, caracóis e frango. Essa é a tradicional paella valenciana, ainda muito presente hoje.
Valência continua sendo o melhor lugar para provar paellas e outros pratos de arroz, como o arroz meloso (mais cremoso) e o arroz a banda, que fica com aquela crostinha crocante irresistível. A cidade de Alicante, inclusive, ganhou o apelido de “Cidade dos 1001 Pratos de Arroz”, de tanta variedade que tem.
Outro clássico da cultura espanhola é o menú del día – o famoso “menu do dia”, criado nos anos 60. Ele costuma incluir entrada, prato principal, sobremesa ou café, pão e bebida, tudo por um preço fixo (em média €13, ou US$15). Vale lembrar que o menu do dia só é servido no almoço de segunda a sexta, geralmente entre 14h e 16h.
Esse menu surgiu na época do regime de Franco, como menú turístico, com o objetivo de mostrar a culinária espanhola aos visitantes – e tinha regras bem rígidas sobre o que podia conter. Hoje ele evoluiu, mas ainda é super popular. As opções costumam incluir entradas como salada, gazpacho ou melão com presunto, seguido de carne ou peixe grelhado e sobremesas como fruta, iogurte ou flan (parecido com o nosso pudim ou com o crème caramel francês).

Pode não parecer à primeira vista, mas a Espanha ama um prato de colher – os chamados platos de cuchara. Quase toda região tem sua própria receita de ensopado. Em Madri, o prato típico é o cocido madrileño – servido em duas partes: primeiro o caldo, depois a carne, os legumes e os grãos. Em Astúrias, a queridinha é a fabada asturiana – um prato rico com feijão branco, barriga de porco, chorizo e morcela, tudo num caldo bem temperado com açafrão.
E os ensopados do mar? Também são maravilhosos. Dois que merecem destaque são o suquet de peix (da Catalunha) e o marmitako (do País Basco). O primeiro é um ensopado de pescador, feito com vários tipos de peixe, batatas e amêndoas. O segundo é mais rústico, com pedaços grandes de atum, legumes e vinho branco.

A gastronomia espanhola é muito mais do que comida: é cultura, tradição e, acima de tudo, convivência. Entre tapas compartilhadas, paellas fumegantes e longas sobremesas, cada refeição se transforma em um ritual de conexão e prazer. Viajar pela Espanha é, sem dúvida, também uma deliciosa viagem pelo sabor.
