EXERCÍCIO DA HUMILDADE
(Uma crônica de Cláudio Loes)
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De tudo o que aprendi e já fiz nesses anos todos, percebo cada vez, com maior clareza, o valor da humildade. Não estou querendo dizer que ser humilde é tornar-se sujeito de outrem, de um grupo, partido, religião, ou seja, tudo o que não sou eu. Ser humilde é descobrir aquilo que, de fato, sou, e tem sido um exercício permanente. Por quê?
Porque quando descubro o porquê de fazer isso ou aquilo, compreendo melhor minha essência, minhas inspirações, aquilo que me deixa feliz ou triste. À medida que a humildade passa a ser natural, acontece algo que percebo, de certa forma, como o brilho das estrelas no céu.
As estrelas estão longe, podem até não existir mais, mas a luz ficou e chegou até aqui. Esse brilho que vai sendo adquirido vai iluminando para tornar mais visível tudo e todos que estão ao lado, numa relação existencial comigo. Então, se me permito buscar quem sou, o outro deve estar fazendo o mesmo e, se ainda não estiver, no mínimo, não devo atrapalhar, mas nada impede que possa encorajá-lo a experimentar. E é aqui que percebo começarem os problemas.
Pessoalmente, policio-me tanto quanto possível, porque existe uma facilidade de querer que o outro seja igual a mim, tenha os mesmos gostos, e vou esperar que, juntos, possamos fazer muitas coisas. Seria o melhor de tudo, mas não é assim que acontece e, normalmente, os problemas acontecem. Aqui, quero somente pegar o problema da comunicação, por ser o mais premente nas minhas relações.
Vamos lá! Primeiro, se eu vou descobrindo meu ser, eu vou comunicar aquilo que sou, meus princípios, minha ética e outros; segundo, eu preciso comunicar isso de modo que o outro possa compreender. Se for na escrita, é preciso seguir as regras gramaticais, caso contrário, pode-se ter o destino de uma pitonisa, pela questão da colocação da vírgula.
E vem o terceiro elemento, e que se liga com o exercício da humildade. Posso ter uma ótima ideia, sei colocá-la numa sequência de entendimento para o outro, mas existe a questão da análise linguística para deixar mais clara a mensagem.
Vou colocar um exemplo que pode ajudar, com base na minha descoberta de que/quem sou. Escrevo um poema (eu mesmo me considero um iniciante), um rabiscador de versos. Lá está ele, faço alterações aqui e ali para comunicar aquilo que quero, deixo um tempo de molho, volto e reviso; gostei dele, e passa a ser meu poema.
O que faço em seguida? Envio para revisão e crítica literária. Pronto! Tão simples assim. A revisão e a crítica em nada vão tirar a essência daquilo que sou e que traduzi no poema. Não quero com isso obrigar ninguém, só estou, como disse anteriormente, encorajando e incentivando o exercício da humildade.
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