A crise climática
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
Outra crise que se aproxima. A crise climática. Recentemente tivemos a crise advinda da pandemia do Covid 19; crises diplomáticas cujos resultados catastróficos são guerras em cursos; crises éticas, políticas, morais e a fila não termina. No dia 04 de outubro de 2023, festa de São Francisco de Assis, em Roma, o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Laudate Deum – “Louvai a Deus” – sobre a crise climática. A Exortação aborda a crise climática global e suas ramificações em seis capítulos. Sugiro a leitura deste texto, porque a nossa Região do Sudoeste do Paraná, lugar em que habitamos está completa, infelizmente, nas estatísticas presentes e futuras, de gravíssimas crises climáticas. Já tivemos um propedêutico nos últimos meses. O tema é sério e profundo. Vejamos, agora, algumas advertências do Papa Bergoglio sobre a crise climática, crendo numa conversão coletiva de comportamentos, começando pelas nossas próprias casas e ambientes de nossas
relações.
Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenômenos extremos,
a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis duma doença silenciosa que nos afeta a todos. É verdade que nem todas as catástrofes se podem atribuir à alteração climática global.
Mas é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos. Pois, sempre que a temperatura global aumenta 0,5 grau centígrado, sabe-se que aumentam também a intensidade e a frequência de fortes chuvadas e inundações nalgumas áreas, graves secas noutras, de calor extremo nalgumas regiões e fortes nevadas ainda noutras. Se até agora podíamos ter vagas de calor algumas vezes no ano, que aconteceria se a temperatura global aumentasse 1,5 graus centígrados, de que aliás estamos perto? Tais vagas de calor serão muito mais frequentes e mais intensas. Se se superarem os 2 graus, os calotes glaciares da Groenlândia e de grande parte da Antártida derreter-se-ão completamente, com consequências enormes e muito graves para todos (cf. LD, n. 5).
Resistência e confusão
Nos últimos anos, não têm faltado pessoas que procuraram minimizar esta observação. Citam dados supostamente científicos, como o fato de que o planeta sempre teve e continuará a ter períodos de arrefecimento e aquecimento. Transcuram outro dado relevante: aquilo que agora estamos a assistir é uma aceleração insólita do aquecimento, com uma velocidade tal que basta uma única geração – e não séculos ou milênios – para nos darmos conta. A subida do nível do mar e o degelo dos glaciares podem ser facilmente notados por uma pessoa no arco da sua vida e provavelmente, dentro de poucos anos, muitas populações terão de deslocar as suas casas por causa destes fenômenos (cf. LD, n. 6).
Para pôr em ridículo quem fala de aquecimento global, recorre-se ao fato de que frequentemente se verificam também frios extremos. Esquece-se que estes e outros sintomas extraordinários são apenas expressões alternativas da mesma causa: o desequilíbrio global causado pelo aquecimento do planeta. Secas e aluviões, enxugamento de lagos e populações eliminadas por maremotos ou inundações têm fundamentalmente a mesma origem. Aliás, se falamos dum fenômeno global, não podemos confundi-lo com eventos transitórios e mutáveis, que em grande parte se explicam por fatores locais (cf. LD, n. 7).
A falta de informações leva a identificar as grandes projeções climáticas que dizem respeito a longos períodos – trata-se pelo menos de decênios – com as previsões meteorológicas que podem, no máximo, cobrir algumas semanas. Quando falamos de alteração climática, referimo-nos a uma realidade global – com variações locais constantes – que persiste por vários decênios (cf. LD, n. 8).