A ESCOLA DEPOIS DA PANDEMIA
É preciso repensar a escola depois da pandemia, diz Patrícia Lobaccaro, em artigo publicado na UOL, destacando que as medidas que levaram à quarentena, obrigaram pais e professores a refletirem sobre as mudanças que poderão ocorrer, em decorrência dos efeitos da grave crise mundial, ainda em curso. Segundo a UNESCO, mais de 1.5 bilhão de crianças foram afetadas com o fechamento das escolas, no primeiro semestre de 2020, em 186 países. Em seu artigo, destaca que “embora o homeschooling não esteja sendo ideal para a maioria dos alunos, os mais pobres foram afetados desproporcionalmente. As diferenças ficaram mais evidentes, por exemplo, entre crianças que têm acesso à nutrição adequada em casa, e as que tinham na merenda escolar a única refeição do dia, entre as que têm computador e um local adequado para estudar em casa, e as que não tem acesso à internet, nem tão pouco água encanada e saneamento. Assimetrias de aprendizado também ficam mais evidentes e torna-se necessário repensar não apenas em como será a reabertura das escolas, mas como será a educação do século 21, que proporcione aprendizado e desenvolvimento de competências socioemocionais para todas as crianças”. Isso quer dizer que não se pode dizer que o ensino a distância será uma realidade para todos, de imediato, porque nem todos têm condições de estudar e trabalhar on line, com a qualidade técnica que se faz necessária.
O ensino a distância é mais apropriado para os cursos de graduação, por isso pensar a escola como realidade virtual no Ensino Básico é reduzir o papel da escola em sua função social, no desenvolvimento também das competências socioemocionais das crianças e adolescentes, que precisam de uma interação pessoal para se desenvolverem como pessoas. A escola não é um espaço apenas para difundir informação, mas para propiciar a formação de valores humanos, com os quais as crianças, adolescentes e jovens devem se preparar para serem adultos capazes de enfrentar os desafios da vida, com princípios e valores que promovam a vida, em todos os seus aspectos. A tecnologia pode auxiliar nesse processo, mas não se tornar preponderante. É preciso que haja a interação pessoal entre pais e filhos, alunos e professores, e todas as demais atividades interativas que marcam o dia-a-dia escolar, para a boa formação educacional.
Sem uma nutrição adequada e acesso a equipamentos apropriados, não será possível garantir a todos uma educação com qualidade. Por isso será preciso repensar os investimentos de forma que as escolas tenham realmente condições para oferecer a todos, indistintamente, a educação capaz de responder aos grandes desafios do século 21. Investimentos estes que não sejam apenas para infra-estrutura e equipamentos, mas também na melhor formação e remuneração de professores e profissionais, para melhor atender uma demanda crescente de alunos, com uma realidade cada vez mais complexa e desafiadora.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.