A política melhor!
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
Em 2020, o Papa Francisco surpreendeu o mundo com a publicação da Carta Encíclica “Fratelli Tutti – “Todos Irmãos” (FT), sobre a fraternidade e a amizade social. O quinto capítulo o bispo de Roma dedicou numa profunda e objetiva reflexão sobre “A Política Melhor”. Na sequência, alguns dos pensamentos para ajudar-nos neste domingo, 06 de outubro, quando iremos às urnas para as escolhas de nossos representantes na gestão das “coisas públicas”, nos 42 municípios do Sudoeste do Paraná, como em todo o Brasil. É mais um momento de fortalecer a democracia e discutir o Brasil nos seus 5.569 municípios.
Diz que para se tornar possível o desenvolvimento duma comunidade mundial, capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum (cf. FT 154). Mas, devemos fugir dos populismos e dos liberalismos, incapazes de pensar uma sociedade que acolha os mais frágeis e respeite as diferentes culturas (cf. FT 155). É preciso garantir o direito ao acesso ao trabalho (cf. FT 162).
Ser verdadeiramente popular – porque promove o bem do povo – é garantir a todos a possibilidade de fazer germinar as sementes que Deus colocou em cada um, as suas capacidades, a sua iniciativa, as suas forças. Esta é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna (cf. FT 162). O trabalho não é só para ganhar o pão, mas um meio para o crescimento pessoal, estabelecer relações sadias, expressar-se a si mesmo, partilhar dons (cf. FT 162), profetiza o nosso Papa.
Alguns limites
Adverte Francisco que não se pode simplesmente confiar no mercado, o mercado é incapaz de, por si mesmo, promover justiça social (cf. FT 168). É preciso uma política pensada com os pobres e que reúna os povos (cf. FT 169). Uma profecia: Faz-se necessária reforma da ONU a fim de impedir imposições culturais ou redução de liberdades básicas das nações mais frágeis por causa de diferenças ideológicas (cf. FT 173). Quando ele escreve sobre o “amor político”, adjetiva Francisco: Revalorizar a política: sublime vocação, forma preciosa de caridade (cf. FT 180). Ainda que a caridade esteja no centro de toda a vida social sadia e aberta (cf. FT 184). E a boa política é grande obra de caridade: “Esta caridade, coração do espírito da política, é sempre um amor preferencial pelos últimos, que subjaz a todas as ações realizadas em seu favor. Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pores são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade. Tal olhar é o núcleo do autêntico espírito da política” (FT 187). Uma advertência pedagógica: O governante deve ser capaz de dialogar, ouvindo diferentes vozes, nunca semeando ódio (cf. FT 190-192).
Sabatina aos eleitos e eleitores de 2024!
Francisco pondera que a política é mais nobre do que a aparência, o marketing, as diferentes formas de maquilhagem mediática. Tudo isto semeia apenas divisão, inimizade e um ceticismo desolador incapaz de apelar para um projeto comum. Ao pensar no futuro, alguns dias as perguntas devem ser: ‘Para quê? Para onde estou realmente apontando?’. Passados alguns anos, ao refletir sobre o próprio passado, a pergunta não será: ‘Quantos me aprovaram, quantos votaram em mim, quantos tiveram uma imagem positiva de mim?’. As perguntas, talvez dolorosas, serão: ‘Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado? (cf. FT 197). Como eleitor e cidadão quero concluir com uma proposta concreta: votemos naqueles/as que cuja finalidade primeira de sua arte de governar seja o bem comum.