Teorias & Fatos Históricos

A PÓS-VERDADE NUMA HISTÓRIA RECENTE

O conceito (ou conceitos) de verdade não é o foco deste artigo. Mas levando em conta que a “verdade” é uma construção histórica, ela também pode e deve ser contestada. Podemos dizer ainda que todo fato é uma narração objetiva. Mesmo assim um e outro poderá discordar. Na democracia discordar, trocar ideias, renovar pensamentos, é normal e saudável. Mas com a onda de fake news (sobretudo na política), fica cada vez mais complicado falar o que ocorreu ou o que não ocorreu.

Propagar ideias teve seu impulso a partir Invenção da Imprensa no século XV, por meio do alemão Gutenberg. Imprimir em massa informações passou a ser uma revolução e tanto, e nunca mais parou. Com impressos populares circulando, a informação não se limitava mais a Igreja, por exemplo. Se antes a Igreja detinha um conteúdo “oficial”, com a imprensa a coisa mudou. O Renascimento entrou na onda, assim como a Reforma Protestante e claro, a Revolução Científica – o poder da escrita destinada as massas foi ficando cada vez mais amplo. Contestar instituições foi ganhando força. O dito controle sobre as informações foi sendo processado e repassado constantemente. Impôr um ponto de vista implicou em duas grandes guerras mundiais, a disseminação de religiões históricas (ou políticas), como o nazismo e o comunismo. No século passado democracia entrou em xeque diante de censuras e cortes na liberdade de expressão. E hoje em dia?

Hoje vivemos um mundo extremamente veloz, com tanta informação que já superamos (em termos de quantidade) tudo produzido pela humanidade. Todo dia mais e mais conteúdos são produzidos, informações repassadas. Todos (ou grande parte) participam, seja com seus textos postados, seus vídeos em tempo real, suas selfies, enfim, as pessoas “comuns” também expressam suas visões de mundo, suas impressões da dita realidade que as cerca, de perto ou de longe. Recordando o historicismo, onde cada um apura os “fatos” como convém, a notícia onde o soldado morto nem foi enterrado e já dão a notícia sobre ele. Nietzsche fez apontamentos interessantes sobre isso, inclusive. Ele já tinha uma “noção” da pós-verdade antes dela dar “oi” pouco mais cem anos depois. Contestar tudo, incluindo as fontes “oficiais” atuais, como a imprensa, os partidos políticos (e suas ideologias) ou mesmo as universidades. Os saberes se dispersam. E no meio desse caldeirão, fake news brotam facialmente. É uma era de hiperpolitização, onde falar de política por meio de achismo é praticamente um padrão nas redes sociais. O excesso de irracionalidade nesses discursos é tamanho, que praticamente predominam no senso comum.

Davi Lago adiciona ainda, que a pós-verdade acaba sendo aquele instante onde crenças de ordem pessoal e emocional, ficam acima de qualquer dado/fato objetivo. Traduzindo: o fato não importa, o que importa é o que cada um pensa sem buscar analisar o que se diz. É com pegar carona numa fofoca alheia e ir aumentando ela, distorcendo. É tornar uma verdade numa outra versão: aquela que convém. Lago explica também que essa ‘“pós-verdade’ é essa situação em que os debates políticos se transformam em discussões emocionais, sem que a realidade concreta importe tanto. Essa linha de pensamento determina que, se algo parece ser verdade, na prática se torna uma verdade, pois é mais importante que a verdade.” (grifo nosso); lembrar do romance de ficção-científica, “1984” (de G. Orwell), onde novas “verdades” eram produzidas para camuflar fatos, é essencial para compreendermos esse nosso mundo atual do fake news. O poder das redes sociais é grande, portanto, educar é algo essencial para analisar um debate.

“De repente, todas as pessoas se julgam especialistas estudado sem assuntos políticos e econômicos. Desse modo, conversar sobre achismos é destruir a realidade das questões políticas e criar uma ficção [ideológica] que nos agrade.” Nesse oceano onde a pós-verdade se tornou um chamariz (“vou opinar sem argumentar, sem analisar seriamente”, mais ou menos isso), o fato acaba sendo ignorado, e assim, a era do fake news ganha uma dimensão de informar-desinformando, como uma maré violenta que derrubará quem estiver pelo caminho.