Teorias & Fatos Históricos

A primeira guerra foi acidental?

Na década de 1960, os cientistas políticos Ole Rudolf Holsti e Robert C. North, pesquisaram intensamente sobre as origens das guerras, mais precisamente, da Grande Guerra ou Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as causas da mesma. Os estudiosos analisaram documentos que foram “produzidos principais tomadores de decisões”, explica Geoffrey Blainey. O modo de pensar dos “cabeças” que estavam no comando das nações  mais vultosas naquele conflito, era um bom começo pra pesquisar. Mas tinha mais pela frente.

Os líderes europeus registraram muita coisa naquele verão que antecedeu o estopim da Primeira Guerra em 1914. Incontáveis memorandos e cartas foram vistas e revistas por North e Holsti, e assim, analisaram o conteúdo de modo a ver como os líderes da Europa viam seus oponentes. Podemos citar ainda, que as cinco nações mais potentes daquele contexto histórico (Rússia, França, Áustria, Alemanha e Inglaterra), “percebiam em seus rivais uma crescente hostilidade. Consideravam benevolentes as próprias atitudes, mas não viam reciprocidade”, diz Blayne. Essas impressões densas que ocorreram, podem ser notadas no intervalo de tempo (cinco semanas) entre o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria-Hungria (morto por um sérvio) e o estopim que deu início a Primeira Guerra Mundial. A tensão entre as potências naquele contexto era uma bomba-relógio – que de fato explodiu.

Mais evidências, segundo os citados cientistas políticos, podem ser apontadas que a Grande Guerra nem de longe foi algo intencional. A dupla de estudiosos afirmou que a Alemanha era despreparada naquele momento caso ocorresse uma guerra. No entanto, North e Holsti foram refutados, pois em 1961, uma pesquisa de Fritz Fischer, com grande embasamento e indícios claros, que o oposto ocorreu: a Alemanha tinha convicção de derrotar velozmente seus adversários num conflito armado. O estudo de Fritz era em alemão, a versão em inglês ainda não estava disponível para dupla, ou seja: era uma fonte que eles nem sabiam que existia e se soubessem, poderiam ampliar as análises e rever seus conceitos sobre a “fragilidade” da Alemanha naquele começo do século XX.

De qualquer maneira, North e Holsti argumentaram ainda, que a Grande Guerra não teve nenhum planejamento. Ela teria sido um acidente… que resultou da pretensa hostilidade entre as potências envolvidas. Adicionaram mais detalhes, explicando que as nações acabaram sendo absorvidas para a Grande Guerra – combate que elas não queriam se envolver, algumas potências previram conscientemente.

A inovação das pesquisas desses cientistas políticos consistiu em detalhar nas análises, além de usarem o computador para agilizar nos dados (e estamos falando da década de 60), indicava uma metodologia inovadora. Conflitos acidentais eram estudos ignorados até então, porém, os teóricos passaram a ver outros lados da história, incluindo, os menos óbvios.

 

Referência Bibliográfica:

BLAINEY, Geoffrey. A guerra como acidente. In: ______. Uma breve história das guerras. São Paulo: Editora Fundamento Nacional, 2014. p. 124-135.