Água contaminada causa doenças que poderiam ser evitadas
Ivonete Terezinha Tremea Plein
As últimas 06 matérias desse quadro mostraram resultados da Pesquisa de Doutorado Águas do Interior: Soluções Alternativas Coletivas na 8ª Regional de Saúde do Paraná sob orientação da Professora Rosana Cristina Biral Leme (Doutorado em Geografia – UNIOESTE). Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/7398. Nela ficou clara a gravidade da situação das águas consumidas por parte significativa das famílias residentes no interior dos 27 municípios da Regional, bem como mostrou uma solução simples, para resolver parte dos problemas, usando cloro de acordo com as orientações dos órgãos de saúde e vigilância sanitária.
Aqui a pretensão é chamar atenção para o fato de que muitas doenças são ocasionadas pela água contaminada, seja porque não foi tratada corretamente, seja porque o usuário não tem acesso ao tratamento adequado ou porque milhares de pessoas não tem acesso mínimo à água, quiçá água potável.
As doenças ocasionadas pela ingestão ou contato com água contaminada por micro-organismos prejudiciais à saúde, como bactérias, vírus e parasitas são chamadas doenças de veiculação hídrica. Esses patógenos podem provocar doenças sérias, como cólera, leptospirose e hepatite A. A transmissão ocorre frequentemente como resultado da falta de saneamento básico, poluição da água e más condições de higiene (https://abconsindcon.com.br/).
De acordo com informações do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) referente ao ano base de 2020, ocorreram mais de 200 mil internações no Brasil causadas por doenças de veiculação hídrica, com um custo de R$ 70 milhões aos cofres públicos (https://abconsindcon.com.br/doencas-de-veiculacao-hidrica/). Já em 2022, o país teve despesas superiores a R$ 87 milhões com hospitalizações por doenças de veiculação hídrica, como diarreia, febre amarela, dengue, leptospirose, malária e esquistossomose. Ao todo, foram mais de 191 mil internações por essas enfermidades (https://tratabrasil.org.br/).
Fica claro que os problemas oriundos da água contaminada e a falta de acesso à água é real em todas as regiões do Brasil, agravando-se nas épocas de estiagem ou cheias, seja por falta de água ou por aumento da contaminação. O Brasil, os demais países e a região Sudoeste do Paraná não alcançaram os principais objetivos de saneamento básico para garantir acesso a água potável para todas as pessoas, agravando-se os quadros de doenças que poderiam ser evitadas. A utilização emergencial de recursos públicos para tratamentos de saúde é extremamente necessária para salvar as vidas das pessoas doentes, mas é necessária uma mobilização social e política para que aconteçam políticas públicas de investimento na segurança sanitária para que os recursos sejam aplicados mais em prevenção do que em tratamentos paliativos.
Leo Heller, autor do livro “Os Direitos Humanos à Água e Saneamento” afirma que “uma proporção importante da população brasileira e mundial tem acesso limitado à água para consumo humano, e também a serviços de esgotamento sanitário e mesmo a proporção da população abastecida por rede nem sempre recebe a água em conformidade com os critérios de potabilidade e na quantidade que necessitam. As estatísticas de acesso à água mostram claramente a significativa e inaceitável desigualdade, pois aqueles que não têm acesso adequado são justamente os mais pobres, com menor alfabetização; pretos, pardos e indígenas; e aqueles que vivem nas áreas rurais, cidades de menor porte e assentamentos urbanos informais”. Mostrando-se preocupado com o fato de que no “Brasil, tem havido uma preocupante descontinuidade na concepção e implementação das políticas públicas, o que é muito pernicioso para um setor que requer estabilidade de orientações e de financiamento público, para se planejar e incrementalmente ampliar o acesso populacional”. Alertando ainda que “podem-se considerar duas dimensões quando se aborda a gestão da água: a água superficial, subterrânea e pluvial, tal como se encontra na natureza, e a água como serviço de saneamento. No Brasil, essas duas dimensões vêm sendo tratadas institucionalmente de forma desconectada, muitas vezes resultando em fragmentação nas políticas. Por outro lado, nem sempre a abundância de água na natureza se converte em acesso das populações a serviços adequados” (https://abrasco.org.br/).
É responsabilidade dos governos e da sociedade garantir o uso adequado dos recursos hídricos de forma que estes possam atender as necessidades atuais e futuras de todas as pessoas. Não é admissível que no país em que 2% do seu território é coberto por água, representando 6% da superfície e 12% do volume de toda água doce do planeta ainda existem milhares de cidadãos sem acesso a este recurso de forma segura.
Ivonete T. T. Plein
Doutora em Geografia – UNIOESTE
Técnica em Assuntos Educacionais – UTFPR
Currículo: http://lattes.cnpq.br/5475663157110517