Águas do Interior (6): A contaminação por coliformes totais
Por Ivonete Terezinha Tremea Plein
A água consumida por cerca de 35 mil pessoas do meio rural na 8ª Regional de Saúde é proveniente de SAC (solução alternativa coletiva). Essa água deveria ser 100% segura e livre de qualquer contaminação. Os parâmetros de potabilidade almejados são os definidos pela portaria GM/MS nº 888, de 4 de maio de 2021. Os resultados das amostras são analisados obedecendo estes padrões e posteriormente, registrados em cada município, no Sisagua. O conjunto dos dados de todo o país são apresentados pelo Ministério da Saúde.
A pesquisa de Doutoramento, realizada na Unioeste Francisco Beltrão, utilizou dados do Ministério da Saúde de 2021 e 2022, identificando níveis altos de contaminação na água consumida pelos agricultores. O mapa temático mostra a contaminação por coliformes totais nos municípios da 8ª Regional de Saúde de Francisco Beltrão em 2022.

Fonte: Sisagua (2022). Organizado por Ivonete T. T. Plein e Henry Mazer, 2024.
Observa-se no mapa que somente o município de Barracão apresentou menos de 40% das amostras contaminadas com coliformes totais em 2022 enquanto que em Francisco Beltrão e Pinhal de São Bento esse percentual ficou entre 40% e 56%. Todos os demais vinte e quatro municípios tiveram índice de mais de 56% das amostras com presença de coliformes totais.
Os dados da pesquisa indicam que nos anos de 2021 e 2022 foram realizadas na 8ª Regional de Saúde 2.252 análises para coliformes totais e 69% das amostras o continham.
A presença de coliformes totais não indica, propriamente, a contaminação da água por matéria fecal, no entanto é fator relevante que exige investigação criteriosa. A Portaria GM/MS nº 888 em seu Artigo 27 esclarece que “No controle da qualidade da água, quando forem detectadas amostras com resultado positivo para coliformes totais, mesmo em ensaios presuntivos, ações corretivas devem ser adotadas pelo responsável pelo SAA ou SAC e novas amostras devem ser coletadas em dias imediatamente sucessivos até que revelem resultados satisfatórios”.
A presença de coliformes totais é claramente negligenciada, por diferentes motivos, considerando-se os números apresentados e ilustrados no mapa acima. As afirmações de alguns técnicos e usuários confirmam que as recoletas não são realizadas conforme instruído na normativa, pois acreditam que:
Não tem como cumprir a portaria 888 na íntegra, a gente mal consegue fazer as visitas para recolher as amostras obrigatórias, para ficar refazendo só mesmo se dá alguma coisa mais grave em algum poço que atenda por exemplo uma agroindústria ou escola (Técnico). Não acredito que possa ter contaminação por coliformes totais aqui porque não tem nenhuma fossa ou esterqueira perto do poço nem da caixa, acho que isso é problema das análises porque no laboratório também pode ter algum problema (Usuário).
Os números não podem ser vistos isoladamente. É preciso lembrar que há por trás a certeza, impregnada no imaginário coletivo, de que a água subterrânea é limpa e nesse coletivo não se excluem os agentes públicos, sejam os servidores da vigilância sanitária, sejam as autoridades políticas que fazem o planejamento de ações, sejam os educadores que informam, os usuários, entre outros. “O problema principal deriva do fato de que nenhuma questão pode ser respondida fora da concepção de uma totalidade de estruturas e de uma totalidade de relações (Santos, 2008, p. 49). Nesse sentido, somente quando a sociedade tiver conhecimento da realidade será capaz de encontrar as soluções mais adequadas para garantir seu direito primordial de água potável.
Para que a população em geral tenha fácil acesso aos dados de seu município, durante a pesquisa foi desenvolvida uma ferramenta de fácil utilização onde encontram-se sistematizados em forma de tabela e de gráficos, todos os resultados por município, disponíveis no link: https://qr-codes.io/6PSFOZ e no QR Code (QR Scanner MixerBax)

Nota:
Esse artigo compõe um conjunto de publicações com resultados da Tese Águas do Interior: Soluções Alternativas Coletivas na 8ª Regional de Saúde do Paraná sob orientação da Professora Rosana Cristina Biral Leme (Doutorado em Geografia – UNIOESTE). Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/7398
Ivonete T. T. Plein
Doutora em Geografia – UNIOESTE
Técnica em Assuntos Educacionais – UTFPR
Currículo: http://lattes.cnpq.br/5475663157110517
