Geral

Ansiedade pré-eleitoral

            Que ano atípico, meu Deus! Não precisa nem refletir muito para se perceber que a bendita pandemia (ou “pandemônia”, como diz um amigo meu) atingiu praticamente todos os setores da vida de todas as pessoas, de um jeito ou de outro – em níveis absolutamente diferentes, é claro. 

            Mas talvez, muito além dos prejuízos econômicos e dos temores sobre a doença, o fator psicológico acaba tendo um peso extremamente maior do que a coadjuvação em que foi colocado até então. Solidão, desesperança, medo, insegurança, dúvidas e a sensação de que tudo está errado. E talvez até esteja mesmo, afinal estamos impossibilitados de fazer muito do que sempre fizemos ou do que temos vontade de fazer – e o pior: não é culpa de ninguém. Mas existe um sentimento – apenas um – que é capaz de, desde já, interferir em outro grande fato de 2020: as eleições municipais. Estou falando da ansiedade. E ela vem a toda velocidade, reforçada com sensações de perda da noção do tempo (graças às mudanças confusas e tardias no calendário eleitoral) e também com aquele pensamento de que “pouco se falou sobre o assunto até então… será que estou ficando para trás?”. Calma! Respira! Estamos em 2020, o ano único e histórico, em que fomos obrigados a reaprender, a mudar, a enfrentar. O tempo já não está mais contando como antes. 

            Muitos amigos, conhecidos e clientes me procuraram nos últimos dias, muitos com essa demonstração em comum – a ansiedade pré-eleitoral. Alguns com a sensação de que precisam fazer algo, outros não sabendo o que fazer. Minha orientação – guardadas as devidas especificidades de cada caso – é sempre a de agir como se quisesse ganhar um voto de confiança das pessoas, mas sem pedi-lo. E melhor: sem nem falar muito em eleições, por enquanto. Atitudes valem muito mais do que palavras. 

            A criação deste espaço de tempo chamado de “pré-eleitoral” é algo muito recente na história dos pleitos. Foi pensado justamente para encurtar o período eleitoral – aquele em que tudo está realmente em disputa, balizado por diversas regras e fiscalizações – e proporcionar um momento em que os futuros candidatos podem falar de tudo que são, pensam e querem fazer sem poder apenas tomar uma pequena atitude: pedir voto. Até porque, para isso, haverá o momento certo. E apenas para isso mesmo, devido ao curto tempo e baixíssima exposição. 

            Por outro lado, também devemos considerar algo que não me canso de repetir: a forma de ver e pensar política de grande parte do eleitorado mudou muito de alguns anos para cá. Hoje em dia, o eleitor está mais crítico, mais desconfiado e, em alguns casos, até mais enojado com a política. Dolorosos discursos de ódio que vemos por aí provam isso melhor do que ninguém. E acredito estar aí  o melhor antídoto para curar a ansiedade eleitoral: pensar com a cabeça do eleitor. Nós estamos envolvidos com a política constantemente, pensando, planejando e sonhando há muito tempo, o dia todo. O eleitor não. E é ele quem precisamos conquistar. Portanto, em muitos casos, falar de eleições ou simplesmente anunciar aos quatro ventos que será candidato desde já, faltando três meses para a batalha começar, pode soar como o ato derradeiro para que alguns críticos, desconfiados, desacreditados ou apenas estressados (seja por conta da pandemia ou não) comecem a colocar um pezinho atrás com relação a tudo que o indivíduo disser dali para frente. Afinal… “será tudo por política”, não é?! E é exatamente isso que não queremos. 

            Trabalho de formiguinha, muita conversa, atenção, posicionamento e ideias claras irão desde já – mesmo que nos bastidores – fidelizar quem já estava próximo e ainda abrir a possibilidade de, depois, conquistar os quietos e numerosos eleitores de véspera (que,  na minha humilde opinião, são os mais capazes de decidir uma eleição em muitos cenários). Então, aí vai um conselho de amigo: não queime cartucho antes da hora. Guarde a munição apenas para o momento em que o alvo estiver posicionado no centro da mira. Afinal, depois de disparada, não tem mais volta.