As vozes das plantas
(Uma crônica de Joceane Priamo)
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Isabela observava sua avó cantarolando no jardim todas as manhãs. Dona Carmélia parava em frente à azaleia e dizia: minha querida, hoje você está linda! Borrifava água no vaso da zamioculca e falava: agora, você está limpinha, meu amor! Ela acariciava os botões das rosas como se fossem animais mansos e domesticados.
Até que um dia, não contendo a curiosidade, ela chegou até sua avó e perguntou:
— Vovó, o que a senhora ganha batendo papo com as flores?
Ela respondeu:
— Aparentemente, não ganho nada. Apenas dou atenção e o carinho que elas merecem.
— Mas as plantas não interagem com a senhora, então como espera que elas conversem?
— Existem muitas vozes além das nossas, que não expressam palavras ou ruídos, precisamos sentir a natureza para entendê-la. Uma semente cai e o milagre da vida acontece. Os brotos são como os filhos, embora possuam a mesma matriarca, cada um se desenvolve à sua maneira. As raízes das plantas abraçam a terra criando um vínculo majestoso. Cada vegetal encontra a sua melhor forma de manter-se em pé, alguns caules são firmes, outros são flexíveis, mas todos conseguem exibir sua beleza com perfeição.
— Vovó, o que as plantas têm para ensinar?
— As plantas nascem, crescem e morrem igual aos outros seres. Carregam cicatrizes, sofrem injustiças e lutam para sobreviverem. Ensinam a suportar as mudanças das estações. Mostram que as despedidas fazem parte da vida. Desapegam-se de suas folhas que viram pó sobre o chão.
Quando fazemos um canteiro ou preparamos um vaso, não colocamos apenas terra. Nossas emoções ajudam a nutrir e a florescer. Um jardim é uma sucessão de pequenos gestos de amor. As plantas, assim como as pessoas, precisam ser regadas, adubadas e podadas. Quando damos afeto para algo ou alguém, aprendemos a enxergar as necessidades do outro, saímos do nosso mundo egoísta e nos envolvemos com o que vive fora de nós.
Temos responsabilidades com tudo que nos rodeia. Se plantarmos a mais bela de todas as flores e não cuidarmos dela, em poucos dias estará morta. Precisamos entender que a samambaia difere da roseira, a suculenta não vive igual à orquídea. Cada planta tem suas fragilidades e especificidades. Algumas são resistentes ao sol, gostam de claridade, outras são sensíveis, precisam de sombra, até a quantidade de água deve ser controlada, pois os excessos ou faltas, também, podem matá-las.
O que aprendo com elas, minha neta? Sabedoria. Não precisamos de alguém conversando ao nosso lado para adquirirmos conhecimento. Basta compreendermos a natureza, que encontramos todas as respostas. Cada espécie expressa o perfeito e o parcial, o eterno e o temporal. A natureza é a vestimenta física de Deus, por isso as plantas têm o poder de curar.
Aqueles que ouvem o que uma planta consegue falar, descobrem que muitos cuidados são necessários, antes de qualquer flor crescer e desabrochar. A paciência faz parte do crescimento. A vida se revela de forma inigualável. Observa com plenitude, escuta com o coração, e aprenda a linguagem que apenas o silêncio do jardim pode ensinar.
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Belíssima crônica, amiga! Reflexão primordial!