Bandeira branca, Brasil
Por Otávio Sedor
Se cada vez escrevo com menor frequência, menos ainda escrevo sobre política. E hoje, no fundo mesmo, talvez nem seja exatamente sobre política. Seria muito simplista dizer que se trata apenas disso. Se trata, na verdade, de dizer o que muito já foi dito – inclusive por mim: um pouco de paz, por favor. Humberto Gessinger já afirmava: “é gente demais, com tempo demais, falando demais, alto demais. Vamos atrás de um pouco de paz”. Nosso Brasil, que já passou e passa por poucas e boas, está precisando dessa necessidade mais do que básica já há algum tempo. E cada vez mais percebemos que, sem ela, é difícil até de começar.
Quem não se incomoda com a tal da hipocrisia? Mas mais do que com ela, me incomodo com o tal do radicalismo. Esse papo de direita e esquerda incomoda, enche o saco mesmo. Acho que políticas públicas, gestão e desenvolvimento vão muito além dessa discussão rasa, vazia, as vezes até meio utópica, fictícia, coisa de livro de história. Não sei se realmente ainda temos tempo para perder com algo que, na prática, não muda a vida de ninguém.
No meio disso tudo, o radicalismo irrita mais quando cega. Aliás, é até um pouco de pleonasmo falar isso. Mas, vamos aos exemplos práticos: o grande assunto da semana passada nessa temática – além da fala muito infeliz do nosso presidente de que “a democracia é relativa”- foi o julgamento e a condenação do ex-presidente Bolsonaro, que hoje está inelegível. Para resumir todas as discussões dos grupos de WhatsApp por aí, a reação dos seus adeptos foi mais ou menos homogênea: “julgamento político, perseguição, Alexandre de Moraes não gosta dele e acha que manda no Brasil”. Enquanto isso, obviamente, o pessoal do outro lado comemorou a condenação. Juro para vocês que a primeira coisa que me veio à cabeça foi justamente o episódio em que o hoje presidente Lula (na época também na condição de ex) passou por um julgamento e acabou condenado – inclusive à prisão. Qual a reação dos lulistas na época? “Julgamento político, perseguição, Sérgio Moro não gosta dele e acha que manda no Brasil”. E o pessoal do outro lado? Em festa. Ou seja, mudam os personagens, mas o discurso é sempre muito parecido. Será que, se por acaso Bolsonaro um dia também fosse preso, haveria outro acampamento em frente a sede da Polícia Federal?
O radicalismo irrita quando cega e quando é hipócrita. Irrita até mesmo quem evita – e com muita razão – tocar nesse tipo de assunto. Mas tudo isso, muito além dessa questão, mostra que a paz nunca chega nestas terras. É claro que a utopia seria minha achar que um dia tudo será apenas paz e amor. O contraditório é bem-vindo, necessário e saudável. O problema é quando isso começa a afetar o andamento das coisas. E já estamos nessa há um bom tempo. O bom mesmo seria se o Brasil – guardadas as devidas proporções – fosse como Francisco Beltrão. Com oposição e pensamentos diferentes, sim. Mas nada que seja maior ao que realmente importa. Nada que trave o andar para frente. Por aqui, debatemos. Mas não paramos de seguir e trabalhar para proporcionar uma vida melhor para todas as bandeiras.
É hora de fazer valer o “união e reconstrução” que está estampado como slogan do governo. Afinal, como um publicitário da escola da redação, também posso me tornar fiscal de slogan para que justifique sua existência. E, para que isso aconteça, precisamos de trégua.
