Centenário da Semana de Arte Moderna
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi anunciada e programada para ocorrer entre os dias 11 e 18 de fevereiro, e foi um marco para a literatura nacional, inaugurando o Modernismo, um conjunto de representações culturais que rompeu com o tradicionalismo do final do séc. XIX e início do séc. XX. O movimento articulou escritores, compositores, pintores e escultores brasileiros, com a intenção de renovar e recriar uma arte genuinamente brasileira e, ao mesmo tempo, estar de acordo com as novas tendências que já estavam a todo vapor na Europa.
A principal característica das produções dessa época foi promover inovações na música, na literatura, na escultura e na pintura, com nomes como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menocchi del Picchia, Anita Malfatti, Candido Portinari, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Heitor Villa-Lobos, entre outros, propondo mudanças um tanto radicais para a época, o que tornou os autores alvo de críticas e de polêmicas.
Segundo o professor Alfredo Bosi “a semana foi, ao mesmo tempo, o ponto de encontro das várias tendências modernas que desde a I Guerra se vinham firmando em São Paulo e no Rio de Janeiro, e a plataforma que permitiu a consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e manifestos, numa palavra, o seu desdobra-se em viva realidade cultural.”
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Nós, poetas/escritores, nesta edição da coluna Via Poiesis, rendemos nossa homenagem aos precursores de um movimento que, em 2022, comemora seu centenário e influenciou toda literatura produzida desde então, produzindo inusitados efeitos sentidos em todos os aspectos da cultura brasileira.
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LITERATURA MINIMALISTA – CLEUSA PIOVESAN
(Uma produção de Cleusa Piovesan)
MICROCONTOS
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CONTRAVENÇÃO
De sapato e de chinelo, Heitor derrubou muita gente de salto alto. E viajou… num Trenzinho Caipira!
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ADORÁVEIS CANIBAIS
Os Andrades mal se conheciam; tornaram-se irmãos nas artes. Deram novo sangue à Literatura Brasileira.
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PROTESTO FEMININO
Tarsila e Anita tiraram as mulheres do anonimato artístico. Com algumas pinceladas no patriarcado, pintaram “a cara” do Brasil!
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POETRIX
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– QUE PARANOIA É ESSA?
Modernistas “pintaram o sete”,
“botaram a boca no trombone”,
pariram identidade nacional!
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(PRÉ)MODERNISTAS
A prenunciar vanguardas
expressão surreal das artes
futuro não coube num cubo
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HAICAIS
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No calor do verão
ideias inflamaram-se.
Vi revolução!
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Alguns visionários!
Parada na estação Arte;
nova luz ao século.
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— Só uma semana?
— Não! Entraram para a história.
Modernos pensares!
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ALDRAVIA – CLÁUDIO LOES
(Uma produção de Cláudio Loes)

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POEMA – JOCEANE PRIAMO
(Uma produção de Joceane Priamo)
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O Homem Amarelo, segunda versão, da pintora brasileira Anita Malfatti é uma de suas pinturas mais famosas. A obra foi parte integrante da exposição de 1917 e da semana de arte moderna de 1922, onde foi motivo de polêmica.
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O HOMEM AMARELO
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Ele vestiu gravata e paletó,
Mas nunca foi um homem nobre.
A vida não teve piedade ou dó,
No espaço de muitos, viveu só.
Foi apenas um desconhecido
Que andava pelo mundo, perdido.
No olhar vago e distante – um desejo:
Que nada fosse como antes.
Na sua triste vida de imigrante
Manteve o título de oprimido,
Mais um filho do mundo – esquecido.
Seu corpo não foi sedutor, nem belo,
Assim como, as vestes do homem amarelo,
Que sentiu-se desenquadrado e desajeitado.
Ele teve sonhos, mas todos limitados.
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ACRÓSTICO – CLAUDEMIR M. MOREIRA
(Uma produção de Claudemir M. Moreira)
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NEM TUDO O QUE VEJO É ARTE
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Somente a ilusão me cala
Encanto e desencanto tão ambíguos
Metade do que ouço, desdenho
Antíteses da dialética imperfeita e falha
Na verdade, dessa roda tão estúpida, abstenho
Ataúde das palavras de silêncios tão contíguos
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Deambulando sigo, por mais cem anos,
Esperando a cultura desse povo florescer?
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Amarguradamente, o nada, assisto
Retoricamente, questiono a todo instante
Temática tão vazia, que desisto
Emblemática estultícia relutante
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Meândrico caminho a que a cultura nos levou…
Odisseia absurda que blasfema toda arte, tão eterna
Deleteriamente, denigre um passado tão sublime
Eternizado por suas obras influentes, verdadeiro estandarte
Regozijo de uma alma, que anseia vê-lo, por toda parte
Não quero que afundemos nessa deterioração de ideias efêmeras
Aviltamento do que dantes fora a Arte… tão Moderna
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