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“Coragem, sou Eu!”

 Dom Edgar Xavier Ertl – bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão.

No Evangelho de Marcos (cf. 6,45-52) encontramos alguns fatos que nos interessam assaz nestes tempos de medos e incertezas quanto ao nosso futuro no pós-pandemia da covid-19. Depois que Jesus saciou cinco mil pessoas da fome, retirou-se ao monte para rezar, enquanto seus discípulos, de barca, foram para Betsaida, lado norte do mar da Galileia. Enquanto os discípulos faziam a travessia, Jesus, em terra, no monte, rezava a Deus Pai. A oração faz parte da sua missão. Nestes momentos ele pode preparar-se para acontecimentos especialmente importantes. Todavia, o Mestre viu os discípulos cansados e
fatigados de remar, porque o vento era contrário. Teve compaixão dos discípulos diante de ventos que não favoreciam a travessia como tinham como objetivo principal.

Era em torno das três horas da madrugada, Jesus dirigiu-se aos discípulos, andando sobre as águas, passando ao lado deles. Os discípulos perceberam que ele ia adiante, porém, pensaram tratar-se de um fantasma. Houve pânico geral, emoção incontida. Apavoramento! Os discípulos experimentam a oposição dos elementos, água e vento e mais a ausência do Senhor. Eles estão cegos e não são capazes de reconhecê-lo, só sentem pavor diante do inexplicável. Jesus se identifica: “Sou eu”. Coragem, ânimo! “Não tenhais medo”. E subiu com os discípulos na barca para ajudá-los em suas dificuldades e infunde paz e confiança
com sua presença. Cessou o vento, ou seja, o medo, o pavor, a incredulidade. Agora sim, estavam seguros na presença do Senhor, embora não entendendo que eles estavam diante do Messias, do enviado do Pai.

Não estamos sozinhos nas travessias. Ele está conosco!

Os discípulos tinham dificuldades de entender as manifestações, as teofanias de Jesus, sua verdadeira identidade! Eles o entenderão só depois da ressurreição. Marcos intenciona neste texto de Jesus que caminha sobre a água diante dos discípulos descrentes a incompreensões humanas. De fato, em certos momentos de ceticismo, ventos contrários, solidão, abandono não é fácil alguém crer que não caminha sozinho, que Ele, o Deus conosco, ressuscitado e vivo entre nós, sempre está a dizer-nos: “Ânimo! Sou eu, não temais”.

No Livro de Deuteronômio, quando os israelitas estão em Moab, Moisés lhes disse: “Mas o Senhor não vos deu inteligência para entender até hoje” (Dt 29,3). Muitas vezes, em meio à provação, o povo da aliança não soube compreender, como a saída do Egito, a caminhada pelo deserto e outros fatos históricos e seus desdobramentos segundo a vontade de Deus e advertido pelo seu servo Moisés, o libertador. Deus intervém capacitando as pessoas a fim de que o entendam e o sejam fiéis. Jesus intervém a fim de que seus discípulos o percebam como o enviado do Pai, o Salvador e que diante Dele não pode haver apavoramento, medos, insegurança. Coragem, desafia-os o Mestre!
Aos discípulos, seguidores de Jesus Cristo, às vezes amedrontados, ele tranquiliza-os com sua presença e animadoras palavras. Que permitamos que Ele, o Salvador e Redentor, entre em nossas famílias, comunidades e, sobretudo, na sociedade cada vez mais secularizada e laicizada, dizendo: “Sou eu! Coragem”, propondo-nos que juntos faremos a travessia nestes mares agitados, de ventos impiedosos, nas madrugadas ou nas auroras da vida.
Foi por isso que Ele veio ao mundo, encarnando-se em nossa humanidade, para anunciar Boa Notícia, foi crucificado porque ensinou novos princípios de amar, de ser justo e honesto, anunciou a salvação para humanidade toda, ressuscitou e está vivo e presente entre nós, povo redimido!
Saudações cordiais às Religiosas/os, presentes na Diocese de Palmas-Francisco, pelo dia da Vida Consagrada, neste domingo, 21 de agosto, deste mês vocacional. Que a exemplo de Maria, dão seu sim generoso ao projeto de Jesus, segundo os Conselhos Evangélicos.

Dom Edgar Ertl

DOM EDGAR ERTL Bispo Diocesano