Córsega: A ilha onde a história encontra o Mediterrâneo selvagem
Um lugar onde a beleza, a história e a autenticidade ainda caminham de mãos dadas, à beira do Mediterrâneo.
Por Sarah Bevilaqua
Aninhada entre a França continental e a Itália, a Córsega é uma ilha que parece ter sido cuidadosamente esculpida por um caprichoso escultor mediterrâneo.

Montanhas dramáticas caem em direção ao mar cristalino, vilarejos de pedra repousam em encostas como se tivessem parado no tempo, e trilhas cortam paisagens onde o silêncio ainda reina absoluto. Conhecida como o berço de Napoleão Bonaparte, a Córsega vai muito além de seu filho mais famoso — é um território orgulhoso, de identidade forte, aromas intensos e uma hospitalidade que mistura reserva e generosidade, como um bom vinho local servido apenas depois de uma conversa.
A história da Córsega é quase tão acidentada quanto seu relevo

Habitantes da ilha já foram etruscos, gregos, romanos, genoveses e franceses — e todos deixaram marcas que ainda ecoam na arquitetura, na língua (sim, há o corso, falado com orgulho pelos locais) e até nos protestos ocasionais por mais autonomia. A cidadela de Calvi, por exemplo, é uma fortaleza genovesa com vista para um mar que parece feito de vidro líquido. Já Bonifacio, no sul, é quase inacreditável: uma cidade medieval erguida sobre falésias brancas que despencam no azul mais profundo do Mediterrâneo.

Mas talvez o segredo mais bem guardado da Córsega esteja nas suas paisagens intocadas. A ilha é um paraíso para os amantes do trekking, sendo lar do famoso GR20, uma das trilhas mais desafiadoras da Europa. Praias como Palombaggia e Saleccia são quase irreais — areias brancas cercadas por pinheiros e águas que gradam entre turquesa e esmeralda. E se o mar encanta, as montanhas fascinam: o interior da ilha esconde florestas densas, riachos gelados e vilarejos como Corte, antiga capital e símbolo da resistência corsa.
A culinária corsa é, como a própria ilha, um casamento entre tradição e surpresa

Há queijos de ovelha curados no tempo exato, figos secos ao sol, mel perfumado com flores do maquis (a vegetação aromática típica da ilha), além de embutidos famosos como o lonzu e o figatellu. Nos restaurantes familiares, serve-se javali ao molho de vinho e castanhas, enquanto as sobremesas honram os ingredientes locais, como a fiadone, uma torta de brocciu (um queijo fresco típico) com limão.
O povo corso, por sua vez, é reservado, mas extremamente orgulhoso de sua terra. Não espere abraços imediatos — mas, ao demonstrar interesse genuíno pela ilha, você será recebido com histórias sobre a vida nas montanhas, canções tradicionais e dicas de caminhos secretos para praias que nem o Google conhece. É esse orgulho contido, quase poético, que faz da Córsega algo mais do que um destino de férias: é uma experiência de encontro com uma Europa que resiste à pasteurização do turismo.
Entre uma taça de vinho Patrimônio e o som de uma canção polifônica corsa ressoando numa igreja do século XII, o viajante atento entenderá que a Córsega não se entrega de imediato. Mas quando o faz, permanece para sempre na memória — como um lugar onde a beleza, a história e a autenticidade ainda caminham de mãos dadas, à beira do Mediterrâneo.
