Deixai-vos reconciliar com Deus!
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
O que é preciso fazer para entrar no Reino dos Céus? O que é preciso fazer para que a reconciliação com o próximo aconteça? É possível reconciliar-se com alguém que nos ofendeu, nos humilhou e até nos ameaçou? Qual é a grande novidade do cristianismo quanto ao tema da reconciliação, sobremaneira, neste Ano Santo, o Ano Jubilar? O Jubileu é um sinal de reconciliação, pois abre um “tempo favorável” (cf. 2 Coríntios 6,2) para a própria conversão. Coloca-se Deus no centro de sua existência, movendo-se em direção a Ele e, reconhecendo Sua primazia. Concretamente, é uma questão de viver o Sacramento da Reconciliação, de aproveitar esse tempo para redescobrir o valor da confissão e receber pessoalmente a palavra do perdão de Deus. Segundo o dicionário de temas Teológicos da Bíblia, “reconciliar” significa fundamentalmente “passar da inimizade para a amizade” (p. 1243), colocando com isso um fim à hostilidade e estabelecendo relações amigáveis entre as partes em conflitos, fruto da nossa fragilidade humana.
Segundo o Apóstolo Paulo, Jesus Cristo realizou, pelo mistério de sua morte e ressurreição, a reconciliação entre Deus e a humanidade (cf. Romanos 5,10). A morte de Cristo é antes de tudo revelação do amor incondicional de Deus: um amor não suscitado por nossa boa conduta, pelo contrário. Não podemos estar orgulhosos de nós: todo o nosso orgulho reside em Deus. Já não orgulhosos de seu poder, mas do seu amor de reconciliação. Portanto, deixemo-nos guiar pelo que nos propõe Jesus e o Apóstolo Paulo, e a partir dos textos, façamos, portanto, nossa reflexão para atitudes concretas e objetivas ao tema desta edição da revista diocesana, e recebendo do Senhor e da Igreja, pelo Sacramento da Reconciliação, o perdão de nossos pecados para celebrar com júbilo e alegria os benefícios do Ano do Senhor.
Na montanha, Jesus anuncia a reconciliação
A única ocorrência do termo “reconciliação” nos evangelhos aparece no sermão da montanha, onde Jesus dá instruções quanto à prática da reconciliação, sobretudo ao tema da ira, da rivalidade e contendas entre as pessoas: “Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (Mateus 5,23-24). A oferta diante do altar só será digna e louvável a partir da reconciliação com os irmãos. É preciso se reconciliar com as pessoas para que nossa justiça seja superior àquela praticada pelos mestres da Lei e fariseus, e para que nossa oferta alcance o coração de nosso Deus.
Às pessoas que, tomadas pela ira, falaram com dureza de seus irmãos e, agindo dessa forma, se tornaram inimigas entre si, se pede para que se reconciliem com seus irmãos e estabeleçam com eles relações amigáveis. Uma novidade extraordinária e, ao mesmo tempo um desafio nas instruções de Jesus: que a reconciliação do irmão ofendido deve ser feita antes de oferecer sacrifícios e, inclusive, antes da recitação do Pai-nosso. A grande importância e urgência da reconciliação entre as pessoas que se ofenderam é sublinhada por Jesus, propondo-nos que a oferta seja deixada sobre o altar, enquanto a parte culpada busca a reconciliação.
Em segundo lugar, a insistência de Jesus sobre o fato de que a reconciliação deve preceder o sacrifício é coerente com o Pai-nosso, onde se pressupõe que todos os que pedem o perdão a Deus já o tenham concedido a outros: “Perdoai as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos tem ofendido (cf. Mateus 6,12). Em síntese, os discípulos de Jesus, neste Ano Jubilar e Santo, não devem apenas buscar a reconciliação quando erram, mas também concedê-la aos outros que, contra eles, cometeram suas faltas. Eis aqui a beleza e graça da vivência do Sacramento da Reconciliação. Busquemo-lo sempre!
Finalmente, em consequência, os seguidores de Jesus Cristo deverão se empenhar, quer sejam autores ou vítimas dos males, a ser promotores da reconciliação. Perdoemo-nos!