Democracia dói
Nestes tempos sombrios, as vezes quem tem razão é o silêncio. Ando aprendendo a contar até dez, respirar fundo e deixar muitas coisas sem resposta. Muito se fala em liberdade de expressão. E isso talvez seja uma das únicas opiniões na face da terra que pode ser uma unanimidade: todo mundo quer liberdade, ninguém gosta de censura. E, mesmo sabendo que o limite da liberdade de expressão é quando se comete um crime, todo mundo tem o direito de se manifestar, seja qual for a sua posição – mesmo que as vezes ela não faça muito sentido.
Quando muita gente festejou o banimento do deputado federal mais votado do Brasil das redes sociais, esquecemos de colocar a situação na balança. Sim, por um lado o seu silêncio nos poupa de algumas desinformações. Mas, ao mesmo tempo, também reforça essas mesmas teses, fazendo valer o papo da censura. E vou dizer uma coisa: é impossível tirar do Twitter todo mundo que fala alguma besteira. E, sim, todas essas pessoas vão levar muitos outros junto com elas e com suas colocações. E não adianta. Então, deixa falar. Deixem todos falar. Isso se chama democracia. Sejam bem-vindos.
A gente fala muito em democracia, democracia, democracia. Para alguns, parece até complexo demais. Para outros, é só uma palavra bonita. Mas democracia, na verdade, nada mais é do que saber conviver todos os dias com pessoas que pensam diferente da gente. E isso dói, machuca demais. Democracia é como a vida, é igualzinha. Não é perfeita, não é tudo do jeito que a gente quer. As vezes, decepciona. As vezes, não concordamos. Mas precisamos aceitar. Porque, assim como a vida, na democracia as coisas não dependem só da gente e não conseguimos controlar tudo. As vezes, o custo é maior que o lucro. Mas é a realidade. E ponto final.
Em meio à surpresas ruins, vemos muita gente inteligente, do bem, querida e bem sucedida se transformando. Gente tomada pelo ódio, pela cegueira, pela utopia, se guiando por absurdos. É triste. Mas precisamos estar preparados, afinal, a democracia é assim. Da mesma forma, deve estar o respeito com essas pessoas, principalmente as que gostamos. Quem sabe, tudo isso seja um alicerce que protege, que dá conforto, que mantém de pé. E, por isso, por mais empolgante que o debate seja, as vezes se torna inútil querer pregar para convertidos fervorosos. Ou confrontar quem se utiliza do artifício dos primórdios humanos de andar em bandos (ou bolhas, trazendo para os tempos atuais) para se sentir seguro. E, além de tudo, ainda pode se tornar uma maldade martelar em cima de um alicerce que pode os fazer cair.
No fim de tudo, é como a vida. Precisamos encontrar o equilíbrio. Precisamos olhar tudo com mais razoabilidade. Sermos mais equilibrados, razoáveis e termos a consciência de que sempre vai ser assim. E de que a democracia dói demais. Mas tem uma coisa que dói ainda mais: quando não a temos mais.