Deus tem pressa!
Não é paradoxal falar da paciência de Deus e sua pressa. Falemos aqui de outro tipo de pressa, a pressa da fidelidade, do encontro com o Senhor quando ele nos propõe caminhos e atitudes novas, uma pressa teológica e bíblica. A partir do Evangelho de São Lucas, pretendo discorrer de quatro exemplos de pressas para ajudar-nos no seguimento de Jesus e nossa espiritualidade cristã.
O primeiro exemplo vem-nos de Maria de Nazaré. “Então Maria se levantou e se dirigiu apressadamente à serra, a um povoado da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel” (Lucas 1,39-40). Quando Maria foi ter com Isabel, não o fez por sua própria iniciativa, como missionária. Foi como serva daquele Senhor que trazia no ventre. Nada disse sobre si mesma, limitou-se a levar o Filho e a louvar a Deus. Uma coisa é verdade: partiu à pressa, plena de Deus, aonde ir depressa senão às alturas? Ela ensina-nos a pressa fiel, a espiritualidade da pressa. A pressa da fidelidade e da adoração. Não era ela a protagonista, mas a serva do único protagonista da missão, seu Filho, Jesus. Maria serviu a Isabel três meses. Fez-se solidária, servidora.
Outro modelo de pressa nos vem dos pastores. Eles receberam a notícia do nascimento de Jesus. “Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura, no presépio” (Lc 2,16). Os pastores, às pressas, vão comprovar a mensagem recebida. Serão eles testemunhas oculares do que viram em Belém. Os fatos comprovam as palavras do Anjo: “Dou-vos uma boa notícia, uma grande alegria para todo o povo. Hoje nasceu o Salvador” (Lucas 2,10-11). Enfim, pastores alegres, mensageiros de uma grande notícia.
No cap. 15, Lucas narra três parábolas dos “perdidos e achados/encontrados”. A ovelha, a moeda e o filho mais novo. Falemos do filho mais novo. Ao chegar de volta à casa do pai. O pai o avistou chegando. “Sai correndo, lançou-se ao seu pescoço e o beijou” (v.20). O pai recomenda aos empregados: “Depressa, trazei a melhor veste, colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés…, trazei o bezerro cevado e matai-o. Celebremos um banquete” (cf. v.22-24). Uma vida nova merece ser festejada. Às pressas, pai e filho se reconciliam. É um reviver; não a simples volta, mas o arrependimento e o perdão.
Zaqueu, acolhido pelo Mestre!
O quarto exemplo de pressa é o caso do encontro de Jesus com Zaqueu. Ele era um chefe de coletores de impostos e a profissão lhe rendeu riquezas. Zaqueu desejava ver Jesus, e sua curiosidade não parece simplesmente superficial. Era de estatura baixa. Havia um aglomerado de gente em torno de Jesus. Não conseguia vê-lo. Subiu num sicômoro, pois o Mestre estava a caminho. Quando chegou Jesus ao lugar, levantou os olhos e lhe disse pelo nome: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de hospedar-me em tua casa” (Lucas 19,5). Zaqueu desceu apressadamente para encontrar-se com Jesus. Obedece-lhe sem questioná-lo. Era tudo o que ele esperava do passante naquele lugar e ocasião. É uma honra Jesus se hospedar em sua casa. Diante da promessa de Zaqueu de devolver aos pobres o que roubou enquanto cobrador de impostos, Jesus lhe dá a maior de todas as notícias: “Hoje chegou a salvação a esta casa, pois também ele é filho de Abraão” (v. 9). Jesus é o Salvador que vem em busca do que estava perdido.
Depressa! A partir destes quatro modelos bíblicos, segundo São Lucas, queremos estar vigilantes e atentos ao chamado de Deus, através de meios que são próprios para a nossa redenção. Temos pressa para servir a exemplo de Maria? Temos pressa de conhecer Jesus como os pastores? Corremos ao encontro dos perdidos com beijos e abraços como o pai misericordioso ou quando chamados para hospedar Jesus, como Zaqueu, descemos apressadamente de nosso orgulho, nossas posses e títulos para hospedá-lo? “A graça do Espírito Santo ignora a lentidão” profetizou Santo Ambrósio.
Dom Edgar Xavier Ertl – Bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão-PR