Dilexi te, “Eu te amei”!
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
No dia 04 de outubro de 2025, memória litúrgica de São Francisco de Assis, o Papa Robert Prevost, publicou a primeira exortação apostólica de seu pontificado. Um trabalho iniciado por Francisco sobre o tema do serviço aos pobres, em cujo rosto encontramos “o sofrimento dos inocentes”. O Papa denuncia a economia que mata, a falta de equidade, a violência contra as mulheres, a desnutrição, a emergência educacional. Ele faz seu o apelo de Bergoglio pelos migrantes e pede aos fiéis que façam ouvir “uma voz que denuncie”, porque “as estruturas da injustiça devem ser destruídas com a força do bem”, profetiza Leão 14.
Principais conceitos e ideias centrais da Exortação do Papa Leão 14
- 1. Declaração de Amor de Cristo: A Exortação baseia-se na passagem bíblica “Eu te amei” (Ap 3,9), dirigida a uma comunidade cristã com pouca força. Jesus se identifica “com os últimos da sociedade” e o contato com os que não têm poder é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história.
- 2. Opção Preferencial de Deus e da Igreja pelos Pobres: Trata-se de um conceito teológico que sublinha a ação de Deus que, por compaixão, se dirige à fraqueza humana e tem particularmente a peito aqueles que são discriminados e oprimidos. Esta opção está implícita na fé cristológica e impele a Igreja a uma posição decidida e radical em favor dos mais fracos.
- 3. A Pobreza como Clamor e Fenômeno Multifacetado: A condição dos pobres representa um grito que interpela a vida, as sociedades e a Igreja. A pobreza não é uma condição única, mas manifesta-se em múltiplas formas, incluindo falta de bens materiais, marginalização social, pobreza moral, espiritual e cultural, e ausência de direitos ou liberdade.
- 4. Inseparabilidade do Amor a Deus e ao Próximo: O amor ao próximo é a prova tangível da autenticidade do amor a Deus. Não se pode amar a Deus sem estender o amor aos pobres. Qualquer ação de amor pelo próximo é um reflexo da caridade divina.
- Denúncia das Estruturas de Pecado: A pobreza é frequentemente causada por estruturas sociais e estruturais e ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. O pecado social manifesta-se como uma “mentalidade dominante que considera normal ou racional o que não passa de egoísmo e indiferença”, definida como alienação social.
- 6. Os Pobres como Sujeitos e Evangelizadores: Os pobres não são meros objetos de beneficência, mas sujeitos capazes de criar cultura própria, mestres silenciosos e uma fonte de sabedoria, ensinando a simplicidade e humildade. A Igreja precisa se deixar evangelizar por eles.
Em 5 capítulos e 121 parágrafos
1º Cap. – Deus escolhe os pobres. O capítulo estabelece o alicerce teológico da opção pelos pobres, detalhando a pobreza radical de Jesus, que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza, e que é o Messias dos pobres e para os pobres. 2º Cap. – A misericórdia para com os pobres na Bíblia. Destaca a centralidade da caridade como mandamento inseparável do amor a Deus, e apresenta a parábola do juízo final, como a regra de comportamento pela qual seremos julgados. 3ª Cap. – Uma Igreja para os pobres. Oferece um vasto panorama histórico do compromisso eclesial, desde o serviço dos primeiros diáconos e os Padres da Igreja (S. João Crisóstomo), até às Ordens Mendicantes (S. Francisco de Assis), e as obras de educação e cuidado dos migrantes e enfermos. 4ª. Cap. – Uma história que continua. Foca-se no Magistério moderno e contemporâneo. Esta seção aborda a necessidade de lutar contra as estruturas de injustiça e enfatiza os pobres como sujeitos. 5º. Cap. Um permanente desafio. O cristão não pode considerar os pobres apenas como um problema social: eles são uma “questão familiar”. Pertencem “aos nossos”.