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Escute

Se você parar neste momento, se concentrar um pouco e simplesmente ouvir o que está acontecendo a sua volta com certeza seria capaz de descrever todo aquele ambiente apenas pela sua paisagem sonora, assim como alguém descreve uma obra de arte por conta de seus elementos visuais. Essa é uma teoria – com total aplicação prática, diga-se de passagem – que o escritor canadense Murray Schafer disseminou durante toda a sua trajetória como estudioso de temas fascinantes, como a ecologia acústica.

Eu, um suspeito para falar de um assunto que tanto me move como a ecologia, não teria outra alternativa se não a de também me apaixonar por iniciativas como essa. E tudo isso ainda mais quando soube que foi justamente quando Schafer foi convidado a ministrar algumas aulas em uma universidade de comunicação de Vancouver que tudo isso começou a tomar forma de uma outra maneira, unindo música, sonoridade, equilíbrio e – não podemos esquecer – o silêncio, as vezes tão necessário para nossa saúde física e mental. Tudo utilizado, também e por incrível que pareça, das estratégias de marketing.

É considerado ruído todo e qualquer som que seja indesejável. Não precisa nem ser alto demais, basta estar incomodando. E uma das grandes missões de projetos desse meio é usar o som a nossa favor, literalmente exercendo a possibilidade de afinarmos o mundo, assim como afina-se um instrumento para que sua sonoridade fique muito mais agradável. E não foi por coincidência que um dos seus livros mais incríveis e famosos se chama “a afinação do mundo”, onde o principal ponto baseia-se exatamente nesse conceito. Uma obra lançada em 1977, que foi pensada em meio a uma década de 60 absolutamente barulhenta, com a chegada dos aviões a jato, os “carros potentes” e a intensificação cada vez maior do maquinário nas indústrias mundiais. Hoje, os ruídos talvez sejam outros. Muita gente falando e poucas ouvindo. Ou, então, poderosos equipamentos que disputam entre si os seus decibéis infernais em locais nada adequados. 

A poluição visual já foi abolida – ou pelo menos minimizada – em grandes centros. Agora, o universo grita pelo controle da poluição sonora, que faz mal para os ouvidos, para a cabeça e para a alma. A concorrência entre os sistemas de som de lojas vai contra tudo isso e, em uma cega percepção, afasta alguns clientes com tal contra-estratégia de marketing. E algumas ainda querem mais música ao invés do equilíbrio. Por outro lado, a acústica do ambiente comercial pode fazer a diferença se, por exemplo, o eco do som produzido por um sapato de salto alto que uma cliente experimenta ajudar a torná-lo mais satisfatório e desejado por conta de tal sensação. Tudo isso faz parte de algo que chamamos de design sonoro. Sim, é verdade. Tudo pode ser minimamente pensado, planejado e desenhado em seus mínimos detalhes para que se torne mais harmonioso, equilibrado e – por quê não? – eficiente nos resultados que produz, até mesmo as obras de arte sonoras. É isso que quero compartilhar hoje e, acima de tudo, convidar: a escutar….

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