Férias no interior
(Um conto de Joceane Priamo)
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Quando Eloisa era menina, passava o mês de janeiro na casa da sua avó. Os galos anunciavam que o dia estava amanhecendo, e ela saltava da cama tão rápido quanto um tufão. Comia uma fatia de pão, tomava uma caneca de Nescau com voracidade, depois ia em busca de aventuras com três gatos e um cachorro. Teve uma época em que ela adotou um porquinho de estimação para acompanhar as suas andanças, mas desde criança teve que aprender que a vida dos outros foge do nosso controle, o pequeno baby se transformou num leitão, depois num porco enorme e logo, virou churrasco de domingo.
A criança que já morou ou passou as férias no interior sabe o que é viver na companhia de vários animais, sentir a adrenalina de subir no topo do pinheiro, andar a cavalo, nadar na sanga, tomar banho de chuva, descer o morro íngreme com casca de coqueiro, se sujar igual tatu, cutucar os balões de vespas e fugir dos quero-queros no potreiro.
A roça é um lugar diferente da cidade, nem sempre tem sinal de celular, à noite enxerga-se apenas a escuridão, o brilho das estrelas e a luz dos vaga-lumes que dançam pelo ar. O supermercado é longe, mas tem tudo que precisa no quintal de casa. Não há praça com parquinho para brincar, é necessário ter criatividade para inventar os brinquedos e as brincadeiras. Com um galho de árvore, as crianças desenham amarelinhas no chão, com uma corda e um pneu constroem um balanço, com uma tora de madeira e uma tábua fazem uma gangorra, com palha de milho e pena fica fácil criar uma peteca, papel amassado e uma meia se transformam numa bola que rola por muito tempo nos pés da molecada.
Eloisa sempre estava cheia de energia e disposição: corria, pulava, caía, levantava e brincava novamente. Os joelhos estavam sempre raspados e as pernas arranhadas faziam parte do seu vestiário, ninguém ia para o hospital por qualquer diarreia ou corpo esfolado. Os chás eram os melhores remédios, depois, passava-se merthiolate nos machucados e tudo voltava ao normal.
Teve um dia que ela se reuniu com a piazada da vizinhança para brincar, era uma tarde quente de sábado, os adultos davam as mesmas recomendações: fiquem na sombra, não vão para o rio que é perigoso ter cobra, cuidem para não se ferirem. No entanto, quem já foi criança um dia sabe que dependendo da aventura, vale a pena arriscar umas palmadas. Tudo foi combinado com muito cuidado, diriam para os responsáveis que iriam brincar nos pinheiros, mas a realidade era outra, cada um vestiria calção ou biquíni por baixo da roupa e se deslocariam até rio, escondido dos seus pais, pois, obviamente, que eles não iriam autorizar se falassem a verdade, devido às mil complicações que cada pai deve ter registrado num livro na hora de argumentar tudo que pode acontecer de fatal durante um passeio.
O plano foi exercido conforme combinado. Como preás escondidas, saíram de fininho, deixaram as roupas amontoadas em baixo de uma árvore, sem se preocupar com o tempo, apenas aproveitaram o momento fazendo uma festa na água. Então novas ideias surgiram, o grupo decidiu usufruir ainda mais a liberdade nadando rio abaixo para explorar a natureza. No entanto, o que ninguém esperava é que alguns pais estavam pescando no mesmo local, e para sacanear os pequenos mentirosos, recolheram todas as roupas e calçados e levaram embora.
Na hora de ir para casa, era só gente, desesperada, procurando as roupas no meio do mato. Em todo vilarejo do interior, sempre tem uma bodega, que geralmente, está ao lado da igreja e de um pavilhão. As pessoas que frequentam o ambiente ficam no estabelecimento jogando baralho, sinuca, bocha, batendo papo e tomando cerveja. Naquele dia, os clientes fizeram diferente, se posicionaram do lado de fora, só para ver o desfile da piazada correndo para casa, apenas de biquíni e pé no chão.
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