JOGO DE SEDUÇÃO
(Cleusa Piovesan)
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O jogo de sedução é mais interessante do que a conquista, a linguagem subliminar é mais sensual do que um vocabulário apurado, os gestos e olhares são mais cativantes do que a consumação do ato de amar.
São as preliminares que fazem do amor uma arte, que criam o mistério nos relacionamentos, que despertam a libido e que instigam à concretização dos desejos pulsantes, que se tornam incontroláveis, quando os amantes se entregam ao enredo dessa sedução.
A imaginação cria fantasias possíveis e impossíveis, reais ou fantásticas, terrenas ou lunáticas, e cria escravos do próprio prazer, quando se envereda pelos caminhos da perversão e da busca do prazer por prazer.
A expectativa, quase sempre, torna-se melhor que a própria festa, pois os preparativos já produzem um clima de euforia, de excitação, de antecipação de promessas veladas, como se planejar fosse melhor que concretizar, como se o medo da frustração fizesse do antes o êxtase, e do depois, a decepção, sem nem ao menos ter experimentado o durante.
Um durante que dura tão pouco, que é tão fugaz, que necessita do processo antecipatório para justificar-se. Um ato de amor ou de prazer? O amor está presente, realmente, quando são os desejos do corpo, que gritam por satisfação? Não estaremos enganados por uma idealização do amor, que nos faz associarmos sua completude ao ato carnal? Se não houvesse o sexo, haveria o amor? E, se ambos se completam, por que muitas pessoas se satisfazem apenas com o sexo? O amor fica em segundo plano? E se vier acompanhado de um bom relacionamento sexual, é amor mesmo ou estaremos nos enganando, criando o conceito de par perfeito, feitos um para o outro, a metade da laranja que faltava? Precisamos, de fato, do outro, para nos sentirmos completos?
Percebo uma estúpida dependência em qualquer forma de relacionamento, que faz, sempre, com que um se anule para satisfazer ao outro. Que forma de amor exige isso? Apenas um amor doentio, egoísta, centrado no próprio prazer.
A felicidade é um estado de espírito, não uma emoção constante e duradoura. É feita de momentos intercalados com todas as alegrias e decepções nas atividades que realizamos no dia a dia, não só com a pessoa amada, mas com todas as pessoas de nosso círculo social.
E insistimos em focar nossa felicidade num ser que nem conhecemos tão bem, e perdemos a noção de outros valores que nos formaram para termos companhia.
Esse sentimento a que chamamos de amor é traiçoeiro, ludibria-nos, convence-nos a abdicar de nossa essência e torna-se a festa mágica da sedução que nos embriaga com palavras doces e inebria nossos sentidos na busca alucinada de uma utopia.
O amor é um embuste criado pela mente humana, e engana sábios e tolos, fortes e fracos, bons e maus, ricos e pobres, e torna-os escravos de sua insana necessidade de satisfação, momentânea ou duradoura, mas sempre, indubitavelmente, passageira e transitória.
E o jogo de sedução recomeça a cada decepção ou a cada ato de desprezo ou de desejos não satisfeitos, num ciclo de frustrações que não destituem a esperança de que o “par perfeito” possa existir, mesmo que seja só na imaginação.
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Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná, da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.
