Lágrimas de um ipê
(Joceane Priamo)
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Sob o céu cinzento que beija a terra, o velho ipê ergue seus galhos nus como braços em prece. Não é chuva que desce de suas folhagens, mas sim as lágrimas silenciosas dos segredos guardados. Cada gota que escorre em seu tronco rugoso carrega a memória de sóis ardentes e invernos rigorosos, de tempestades que o açoitaram e a calmaria que o embalou. São gotas de pura seiva, filtradas pela força ancestral que o ancora ao solo. Elas retratam a resiliência da vida, a sabedoria paciente que apenas o tempo confere.
Explodindo em cores vibrantes, ele é o símbolo de esperança e renovação, no entanto, seu florescer deslumbrante é, por natureza, transitório. Quando as flores começam a cair, é como se a árvore chorasse sua própria exuberância, dissipando-a no vento ou na chuva. Essa imagem evoca uma melancolia sutil, um reconhecimento da fragilidade da vida e dos momentos de pura alegria.
Para quem sabe observar, seu ciclo é um testemunho da beleza, da força que se revela não no grito, mas no suspiro de períodos que se fecham e se abrem na passagem dos anos, pela dança efêmera das estações, ou simplesmente por um ato de comunhão profunda com a essência da vida que pulsa e se renova, mesmo nos momentos de aparente quietude. Um espetáculo silencioso e pungente, ensinando-nos sobre a beleza oculta nos processos mais simples e profundos da existência, um elixir poético que nutre a alma com a delicadeza das flores e atrai a vida ao seu redor, cujas raízes se entrelaçam com a própria história da terra.
Cada lágrima é um segredo sussurrado pelo vento, um guardião centenário que viu povos passarem, estações mudarem, e ainda assim, mantém sua majestosa postura, imperturbável. Quem busca refúgio à sombra de seus galhos floridos pode sentir a energia serena emanar de sua alma agridoce que tinge o chão com uma sabedoria silenciosa, onde apenas o tempo e a resiliência de um ipê podem ensinar.
Cada pétala que se desprende é um lembrete de que nada na vida é permanente. É um convite à contemplação, para apreciar a beleza enquanto ela existe e aceitar com serenidade sua inevitável partida. As lágrimas de um ipê são, na verdade, um ciclo de vida em sua forma mais pura e comovente, uma lição silenciosa sobre a arte de florescer e deixar ir.
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Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual.
Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Em 2024 lançou a coleção infantil As aventuras de Chiquinho Beltrão e sua turma. Participa da coordenação da Via Poiesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.