LINGUAGEM NEUTRA?
*Prof. Dr. Valmor Bolan
Está em discussão, há algum tempo, proposta de mudança na língua portuguesa para favorecer aqueles que não se identificam com os pronomes masculino e feminino, a chamada linguagem neutra. O tema suscita debates acalorados e questionamentos por parte da comunidade LGBT, dentre outros grupos, que querem a modificação da língua inclusive nos livros didáticos, nos materiais educativos utilizados em sala de aula. O fato é que esse processo de desconstrução civilizacional visa também a linguagem, para que haja uma melhor aceitação da mudança de mentalidade e costumes que estamos vivendo com mais intensidade desde os anos 60 do século passado. Modificar a linguagem e atribuir conceitos novos faz parte desse processo. Os defensores dessa mudança defendem o que eles chamam de “comunicação inclusiva”. É óbvio que as motivações desse debate são ideológicas, por isso as justificativas nem sempre são baseadas na realidade objetiva, mas em falseamento da realidade.
Jorge Scala explica que toda ideologia “utiliza o engano como um meio imprescindível para alcançar a sua finalidade”. E acrescenta: “Este corpo ideológico, por suas limitações intelectuais, não poderia pretender sair de pequenos círculos esotéricos a não ser pela manipulação da linguagem, visando uma verdadeira lavagem cerebral, ao estilo sectário, mas com dimensões globais. Esta tática é aplicada através de um movimento envolvente, utilizando para isso os meios de propaganda e o sistema educacional formal. A estratégia possui três etapas: a) A primeira consiste em utilizar uma palavra da linguagem comum, mudando-lhe o conteúdo de forma subreptícia; b) depois a opinião pública é bombardeada através dos meios de educação formais (a escola) e informais (os meios de comunicação de massa). Aqui é utilizado o velho vocábulo, voltando-se, porém, progressivamente ao novo significado; e c) as pessoas finalmente aceitam o termo antigo com o novo conteúdo. Esta ideologia possui várias locuções utilizadas para habilmente manipular a linguagem”. Por isso, é que devemos apreender as motivações desse processo e procurar compreender por que estão fazendo isso, com quais objetivos? O fato é que o caráter ideológico disso, coloca a proposta sob suspeita, além de explicitamente atacar a nossa língua pátria.
Diante disso, devemos, enquanto educadores, buscarmos o discernimento, para refletir sobre a questão, com ponderação. O masculino e o feminino, portanto, na nossa língua, não podem ser relativizados, com prejuízo da compreensão da realidade. O masculino e o feminino não são construções culturais, como querem advogar os ideólogos e propagandistas de plantão, mas um dado da realidade objetiva, um fato biológico concreto. E como lembra Jorge Scala, “a rejeição a esta visão ideologizada – e, portanto, falsa”, não pode justificar também discriminações. É preciso que haja bom senso e respeito às pessoas. Mas a língua portuguesa não pode ser aviltada dessa forma. Temos responsabilidade perante as gerações futuras e prepará-las para lidar com os desafios da vida, com informações corretas, com lastro na verdade.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.