Na C. Vale, Copel faz chamada pública para mais energia para o Estado do Paraná
AEN – Copel lançou, na sede da cooperativa C.Vale, em Palotina, Região Oeste, uma chamada pública para a contratação de energia proveniente de autogeradores. O edital, inédito no Brasil, foi autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mediante solicitação feita pela Copel para implantar esse projeto-piloto de cinco anos. A previsão é contratar até 50 MW (megawatt) médios de energia nessa modalidade, equivalente a 438 mil MWh/ano ou 1,9% de sua carga anual.
O objetivo da chamada é atrair produtores independentes de pequeno e médio porte, incluindo minigeradores, aproveitando ainda mais o potencial energético do Estado, com capacidade para operar de maneira conectada. Para vender à Copel, os autogeradores terão de constituir uma microrrede – um sistema elétrico independente, que funciona como uma “ilha de energia”, integrando geração, armazenamento e consumo à rede de distribuição.
“A Copel abre a oportunidade para pequenas centrais hidrelétricas, produtores de energia a partir de cavaco de madeira, cana de açúcar, ou biogás, com os dejetos de suínos. É mais uma fonte de renda e de oportunidade para os nossos produtores”, disse o governador Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD). “A ideia é fortalecer o campo, a produção de alimentos, colaborando ainda mais com as cooperativas. Com essa chamada e aplicação de recursos em energia, estamos promovendo uma transformação nessas propriedades, possibilitando segurança para os novos investimentos”.
Os autogeradores que constituirão as microrredes poderão vender a energia gerada para a Copel e, com isso, abastecer um grupo de consumidores próximos. Eles também deverão estar inseridos numa das 32 macrorregiões listadas no Estado. A companhia ficará responsável pelo controle e segurança da operação. A chamada ficará aberta até o dia 16 de fevereiro.
“O Paraná Trifásico dá estabilidade para a energia. O Rede Elétrica Inteligente garante que, em eventual queda, a rede volte com rapidez, num sistema totalmente interligado. E agora vamos integrar também as microrredes, estimulando o proprietário a produzir energia para a sua comunidade. É uma visão de longo prazo”, disse o presidente da Copel, Daniel Pimentel Slaviero. “A Copel quer ter a melhor energia, com a rede mais segura e moderna do País”.
Chamada
A chamada vai abranger “acessantes” que geram de 1 a 30 MW (potência capaz de atender 100 mil consumidores), sem restrição da fonte geradora, com custo máximo de venda de R$ 311/MWh.
Os proponentes terão de dar garantias de sustento da sua microrrede e controle sobre a potência por, pelo menos, cinco horas ininterruptas. Esse critério foi estabelecido com base no tempo médio de atendimento da Copel na troca de um poste, por exemplo.
A autorização da Aneel para a chamada pública é denominada sandbox regulatório – espécie de ambiente de teste, conhecido como “caixa de proteção” regulatória. Nessa regra a duração e as condições são previamente delimitadas para que os agentes do setor possam pôr em prática as inovações.
Público-alvo
O público-alvo do programa é formado por uma gama de produtores independentes de energia de baixa e média potência e também centrais geradoras hidrelétricas (CGHs), pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e centrais geradoras térmicas (CGTs), entre outras.
Os produtores deverão estar localizados numa das 32 macrorregiões estabelecidas na chamada. Elas são formadas por conjuntos elétricos estabelecidos pela Aneel, com uma ou mais cidades. Segundo a Copel, o projeto atinge cerca de 100 municípios.
As macrorregiões são Almirante Tamandaré, Alto Paraná, Arapoti, Barboza Ferraz, Campo do Assobio, Canteiro Segredo, Cascavel, Castro, Clevelândia, Colombo, Distrito Industrial de Telêmaco Borba, Figueira, Governador Parigot de Souza, Guaraituba, Igapó, Jaguariaíva, Lapa, Marialva, Morretes, Passo do Iguaçu, Piraquara, Pitanga, Ponta Grossa Norte, Ponta Grossa Sul, Pontal do Sul, Quatro Barras, Rio Branco do Sul, Sabará, Salto do Meio, Tafisa, Tunas e União da Vitória.
O Paraná é fértil na produção de energia por causa do potencial de suas águas. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há 32 PCHs e 69 CCHs em operação no Estado, que somam 404 Megawatts (MW) de potência instalada, 9,47% do total do País.
Melhorias do Indicador DEC
O programa piloto servirá para testar o modelo e auxiliará a Copel em casos de contingência. Diante de um eventual problema na linha, a companhia poderá isolar o sistema e manter boa parte dos consumidores do local abastecidos enquanto repara o ponto danificado.
Nesse caso, a inovação terá reflexo direto na melhoria do indicador DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), que diz respeito à quantidade de tempo que um cliente ou um grupo permanecem sem energia. Outra melhoria é a possibilidade de adiamento de investimentos de médio prazo.
“É um movimento mundial e inevitável para melhoria da distribuição. Queremos garantir que esses geradores tenham acesso à distribuição e mantenham seus processos quando houver algum tipo de problema na rede. Essa é uma ferramenta decisiva para melhorar a qualidade no fornecimento de energia da Copel”, afirmou Júlio Omori, superintendente de Smart Grid e Projetos Especiais da Companhia.
“Essas microrredes criam pequenas ilhas constituídas por oásis de conexões perfeitas. Na geração distribuída são dois mil pedidos por mês na Copel, em média. Queremos, agora, utilizar essa energia e esse potencial”.
A maior parte da energia da Copel é adquirida em leilões, sistema invariavelmente mais barato, mas que, ao mesmo tempo, pode ter sido gerada no Norte e Nordeste, mais sujeita a intempéries no caminho. Esse programa piloto é uma maneira alternativa de composição do sistema elétrico estadual e que está ligado a outros projetos da Companhia, como o Paraná Trifásico e o Rede Elétrica Inteligente. É um passo fundamental rumo à era das redes hiperconectadas.
Qualidade do serviço
Na prática, o programa terá repercussão direta na qualidade do serviço prestado pela Copel por causa da redução das perdas e otimização do sistema (controle de tensão e perdas), sinergia com os outros projetos do braço de distribuição, integração com a central de controle e viabilidade de mais negócios de geração distribuída porque o preço de venda será competitivo. É um incentivo à inovação e integração tecnológica.
“Uma rede normal tem produção, transmissão para a subestação e distribuição para o consumidor final. A novidade da microrrede é isolar uma região enquanto se corrige um eventual defeito. Continuaremos transmitindo energia mesmo com a queda na fonte principal e otimizaremos todo o sistema, que será mais robusto e mais forte”, afirmou Maximiliano Orfali, diretor-geral da Copel Distribuição.
Segundo ele, essa chamada é uma forma de aprimorar a geração distribuída porque o produtor não aproveita todo o potencial energético do seu sistema ou vende em leilões com preço de baixa competitividade. “Agora vamos viabilizar uma nova rede, com garantias e melhorias na distribuição da Copel e incentivo aos produtores locais de energia”, complementou.
Legenda: Em Palotina, o governador Ratinho Júnior, o presidente da Assembleia, Ademar Traiano, e o diretor-presidente da Copel, Daniel Slaviero, na assinatura de convênio. Crédito: Geraldo Bubniak