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Não dá para viver assim

É impressionante a velocidade e a proporção que tudo toma hoje em dia. No último domingo estava eu, na tranquilidade do sitio dos meus sogros, com aquela confortável sensação de isolamento desse mundo cada vez mais barulhento, quando a Su me mostra – ainda chocada, logo após acordarmos – a notícia que estava circulando desde a noite anterior por todos os lugares: o texto divulgado pela atriz Klara Castanho.

É o tipo de coisa que faz pensar. E não é apenas pelo caso em si, mas pelo contexto em que acontece e, principalmente, pelo feedback através das reações de quem está em volta. Primeiro, uma blogueira tenta vazar a notícia através daquela tática chata e vencida de caça-cliques, sem citar nomes, de que “atriz global teve bebê e o colocou para adoção”. O título não era mentiroso, mas nem tudo é apenas o que parece ser. Aliás, essa é uma regra que serve para a vida e nunca falha: a gente nunca sabe de tudo que se passa por trás. 

O estupro sofrido não é, infelizmente, nenhuma novidade. Seja em forma de abusos mais extremos como esse ou através de outras formas de violação, todo abuso é abuso. E o alimento preferido do abuso é o silêncio. Mas, o pior de tudo, é que o silêncio é nutrido pelo julgamento das pessoas no reino da hipocrisia. Em entrevista para o Fantástico – que no mesmo dia já repercutiu o fato – Klara afirmou que além da violência sexual sofrida, a violência das palavras também a atingiu. E eu acredito.

Porém, apesar de tudo e de todos, a grande questão que faz pensar é a necessidade de entender que isso acontece todos os dias. Todos mesmo. O tempo todo. E são nas atitudes mais bobas que esses atos são minimizados e a cultura machista é reforçada. E quando falo em machismo, nem me refiro apenas a causa como um todo, mas sim à cultura implantada desde a infância ou adolescência, em que meninos aprendem que, antes de tudo, mulheres são como objetos para satisfazer suas vontades. E, por isso, se dão o direito de tratá-las assim, de se referir dessa forma, de não ter um pingo de empatia. Meus filhos serão ensinados de outra forma sobre isso e vários outros assuntos para que, longe de sermos perfeitos, pelo menos não tenham vergonha de ser homem como muitas vezes eu já tive. E, ao invés disso, sejam homens de verdade.

Que fatos como esse, com repercussão de mídia nacional por se tratar de uma personalidade de tal nível, sirvam para abrir os olhos sobre os casos mais comuns e isolados do dia a dia. Que façam as mulheres não nutrirem esses atos com nenhum silêncio. Que façam homens serem homens de verdade, que cuidam e prezam pelo respeito a tudo, a todos e principalmente a elas antes de qualquer coisa. E que faça todos refletirem que ali poderia ser sua esposa, namorada, mãe, irmã ou filha. Por isso, a velha regrinha de não fazer com os outros o que não gostaria que fizesse consigo sempre é muito válida e necessária.

E, mais do que tudo, que a forte explosão que hoje em dia a imprensa provoca em fatos como esse comece a realmente cumprir seu papel de fazer pensar e mudar atitudes, realmente fazendo a diferença, e não apenas engrossando o caldo dessa exposição infernal que machuca como qualquer outra violência e não deixa ninguém viver em paz. Seria mais uma utopia de minha parte? Não sei. Porém, enquanto isso, prefiro continuar acordando na tranquilidade do sítio dos meus sogros.