Nicarágua: vulcões, lagos e histórias que dançam ao som do mar
Curiosamente, apesar de possuir o segundo maior lago da América Latina e uma costa caribenha salpicada de ilhas paradisíacas como as Corn Islands, a Nicarágua ainda é pouco explorada pelo turismo.
Por Sarah Bevilaqua
Há algo na Nicarágua que parece sussurrar ao viajante mais atento: “fique mais um pouco”. Talvez seja o contraste de seus vulcões fumegantes com as águas serenas dos lagos infinitos. Ou a maneira como suas cidades coloniais se desenham diante dos olhos como páginas vivas de um livro antigo.

A verdade é que este país, muitas vezes ofuscado por vizinhos mais turísticos da América Central, oferece um banquete de experiências autênticas, cores intensas e silêncios cheios de história.
Granada, às margens do Lago Nicarágua, é um bom ponto de partida. Fundada em 1524, é uma das cidades coloniais mais antigas das Américas. Suas fachadas em tons pastéis, as charretes balançando preguiçosas nas ruas de paralelepípedo, e as igrejas de torres barrocas criam um cenário quase cinematográfico. Já León, no lado oposto do mapa afetivo, respira arte, poesia e revolução — foi berço de Rubén Darío e palco de intensas movimentações políticas. O país, afinal, já foi colônia espanhola, sofreu com ditaduras, terremotos e revoluções, mas sobrevive com um sorriso largo e uma alma resiliente.
Mas não se engane com a doçura aparente: a Nicarágua pulsa aventura.

O vulcão Masaya, ainda ativo, permite que se observe, do alto de sua cratera, o vermelho incandescente da lava — uma visão quase mística, como olhar o coração da Terra em batimento lento. Já o Cerro Negro, outro vulcão ativo, é famoso pelo volcano boarding, um tipo de surfe em que corajosos deslizam pelas encostas negras em tábuas de madeira. E como se isso não bastasse, a Ilha de Ometepe — formada por dois vulcões no meio do Lago Nicarágua — oferece trilhas, águas termais e uma energia quase espiritual.
No quesito gastronomia, espere sabores marcantes e confortáveis
O gallo pinto (arroz e feijão refogados com cebola e pimentão) é quase um patrimônio afetivo. Tamales, nacatamales e o vigoroso vigorón — feito com mandioca, carne de porco e salada de repolho — também merecem destaque. Nas praias do Pacífico, como San Juan del Sur, peixes fresquíssimos são servidos ao pôr do sol, muitas vezes ao som de um reggae suave ou de alguma balada nica que fala de amor e resistência.

Curiosamente, apesar de possuir o segundo maior lago da América Latina e uma costa caribenha salpicada de ilhas paradisíacas como as Corn Islands, a Nicarágua ainda é pouco explorada pelo turismo de massa. Isso a torna, paradoxalmente, um dos destinos mais genuínos da região. O visitante aqui não é apenas espectador — é convidado a dançar nas festas populares, a conversar com vendedores nas feiras coloridas e a descobrir que a Nicarágua não cabe em rótulos ou pacotes prontos.

Talvez seja isso que a Nicarágua desperta na gente: uma terra que não te oferece respostas prontas, mas faz perguntas lindas. E no fundo, é isso que a gente quer ao viajar, não é? Mais do que fotos perfeitas: memórias de um lugar que, de alguma forma, também virou nosso.
