BeltrãoComunicação

Ninguém mais está ouvindo ninguém

Por Otávio Sedor

        Existe um clichê mais do que batido com relação a comunicação, onde dizemos que ela se trata do que os outros entendem, não do que falamos. Porém, as vezes esquecemos de alguns detalhes muito simples. O primeiro de todos, sem dúvidas, é que para se entender algo é necessário, antes de tudo, saber ouvir.

                Algum tempo atrás, vi um video do Luciano Potter palestrando em um TEDx com o título “Ninguém está ouvindo ninguém”. Ali ele contou, entre outras coisas, a lição que aprendeu com os últimos momentos de vida da sua avó, onde um comunicador que tanto fala no seu dia a dia, aprendeu a parar um pouco e ouvir. Só ouvir. E, assim, pôde absorver um pouco de tanta sabedoria e vivência.

                Por coincidência ou não, esse tema entrou muito em pauta em algumas rodas de conversa em que estive nos últimos tempos. Acredito que a percepção nunca esteve tão evidente como agora, depois dos últimos passos que a humanidade tem dado. 

                Política, religião, orientação sexual, briga de torcidas e agora até guerra. Sim, guerra, em pleno ano de 2022. Parece que a pandemia – um dos momentos mais cinzentos da história – realmente deixou de nos ensinar algumas coisas em meio a tantas lições. A palavra “intolerância” nunca esteve tão presente. E a falta de tolerar vem muito da falta de ouvir. É aí que começa, quando se perde o diálogo e vai para a imposição, para a verdade absoluta, para a falta de empatia, de se sentir no lugar do outro.

                Confesso que hoje em dia até estranho quando, em um encontro com os amigos, alguém para a conversa e me pergunta porque estou quieto. Isso é realmente um problema que merece questionamento? Bom, é bem verdade que tudo anda meio virado. Que o que deveria ser respeitado vira motivo de conflito, de medo, de vida ceifada. Parece que tudo ficou muito fácil. E, quando fica muito fácil, se perde o real valor.

                O que eu queria dizer hoje seria isso. Para a gente remar um pouco contra a maré, respirar fundo, escutar nossa respiração e ouvir mais os outros. Afinal, ninguém mais está ouvindo ninguém. E o mundo está cada vez mais chocante por isso. Meus amigos que me desculpem, mas continuarei ouvindo mais do que falando. Ouvir nos ensina, ajuda a evitar a depressão, nos torna melhores. E comunicação não é apenas a notícia, o jornal, o site, a TV ou o rádio. Não é a campanha publicitária ou aquele jingle grudento. Se comunicar também é o que nos deixa vivos. E é sim, conforme diz mais um daqueles odiáveis clichês, o que os outros entendem. Mas, para que os outros entendam é preciso, antes de tudo, que o outros aprendam a ouvir.