O EFEITO BUMERANGUE
Há um tempinho escrevi por aqui sobre o uso dos dados de usuários das redes sociais para traçar perfis de interesses, saber o que cada pessoa pensa, quer, gosta e, a partir disso, disparar conteúdos minuciosamente direcionados, falando exatamente o que se procura e se quer ouvir. Por coincidência ou não, a partir daí, também participei de alguns debates e rodas de conversa falando do assunto e principalmente ouvindo as pessoas, as sensações que cada uma tem em relação a tudo isso.
Através do meu próprio perfil em algumas redes, perguntei aos meus amigos se eles realmente tinham essa sensação de que o celular ou o computador está ouvindo as suas conversas, pois logo após demonstrarem algum interesse em determinado assunto, começa-se a visualizar em todo lugar vários anúncios justamente sobre tal tema. Realmente, é de assustar.
Porém, todavia, entretanto… isso tem uma explicação. Uma não.
Várias! E analisando tudo isso, me veio uma lembrança na cabeça. Uma lembrança que também é uma baita indicação para quem ainda não conhece:
“Privacidade Hackeada”, um documentário da Netflix que trata do episódio da Cambridge Analytica, a empresa inglesa de coleta e análise de dados famosa pelo trabalho na campanha de Donald Trump – acho que também já falei disso por aqui. E essa história toda, no fim das contas, foi parar no tribunal.
Algumas pessoas começaram a questionar a forma como esses dados eram obtidos e, ainda mais, como as plataformas permitiam isso ao invés de garantir a segurança total de seus usuários.
O que muita gente não sabe é que, mesmo sem se dar conta, em muitos casos nós mesmos autorizamos essa coleta através de alguns aplicativos aparentemente inocentes. É através do “aceito os termos de uso e privacidade” (que ninguém lê) ou de “brincadeiras” através de questionários opinativos, que “traçam o seu perfil sobre determinado assunto”. Tudo isso se transforma em milhares de pontos de dados que são – ou pelo menos eram – vendidos para campanhas e projetos de todos os tipos, não apenas políticos.
No fim das contas esse mecanismo é um verdadeiro efeito
bumerangue: é lançado através dessas “iscas” para coleta de dados e volta para o lançador com todas as informações mais preciosas. E no dinâmico mundo das redes, a todo momento surgem novas soluções que superam a defasagem ou a impossibilidade das anteriores. Algumas inteligentes, outras radicais, outras ilegais… e assim segue o bailinho.