GeralVia Poiesis

O trono

(Uma crônica de Cláudio Loes)

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Para todos os que pensam saber quais são as maiores dores da vida, vou lhes dizer que estão sempre errando o alvo. Parem um pouco! Vamos pensar nas possibilidades.

Há os que acham que uma dor de cabeça é o fim do mundo. Tudo gira, tudo dói e, pior ainda, se for depois de uma festa. No dia seguinte, parece que tem uma tonelada de chumbo querendo ficar bem paradinho no chão.

Outros pensam logo em dor nas costas. Qualquer dor na coluna, de alto a baixo, podem escolher. É o inferno na terra. Não tem posição para nada, nem para aquela relação casual depois do pôr do sol. Trabalhar é um suplício.

Aqueles que elegeram as dores abdominais já estão chegando mais próximos à dor que realmente importa, e que faz a vida parar. Começa com uma dorzinha bem lá no fundo, que explode em estrondos, ouvidos a quarteirões de distância. Parece até com o foguetório de casamento tardio ou de festas de final de ano.

Essa dor profunda tem como destino o trono, quando o tempo permite. Assim, pode haver duas opções: ou corre tudo sem controle ou tranca tudo. Pensando bem, o que tranca tudo é uma desgraça. Não há cura imediata, é preciso ter paciência.

Quando os tubos trancam, passam todas as outras dores. Nada entra, porque nada sai e, nos primeiros minutos, tudo só piora. É uma mistura confusa, já não se sabe se a cabeça mudou de posição, se a coluna está querendo saltar.

Isso tudo sem falar das cólicas que rasgam tudo. Junte-se a isso ingerir a medicação e, dependendo do tipo, muita, muita água para fazer efeito.

Finalmente, o problema começa a se resolver e o trono passa a ser o lugar mais aprazível do mundo. Tudo se resolve, e nem é preciso ter pressa. Todos sabem o que se passa e ninguém comenta; vai que mais alguém possa ser acometido do mesmo mal.

Quando tudo destranca, e sai o vivente com a alegria estampada no rosto, feliz da vida e sem se queixar de nada, os outros ficam quietos e nem ousam usar o trono. Os motivos… todos sabemos.

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