Por quanto tempo eu devo ficar calado?
(Uma crônica de Claudemir M. Moreira)
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Todos querem saber o que você pensa, sobre tudo…
Eu simplesmente não penso sobre muitas coisas… há coisas que eu nem sei que existem, se existem, ou se quero saber se existem. Realmente, há coisas que prefiro nem saber…
Todos querem saber o que você pensa, mas ninguém realmente pensa em sua própria vida; simplesmente, arrastam-se por aí, seguindo um rebanho desgovernado, iludido e contraditório com suas próprias verdades… quando há verdades!
A vida, para mim, é mais simples… vejo que as pessoas complicam, com suas crenças ou dogmas, com sua baixa percepção do mundo, sua fragilidade e inocência, sua rendição e subserviência cega e doentia.
O mundo é livre. Suas barreiras, suas fronteiras naturais, são avisos, marcos que delimitam biomas de belezas singulares; não são imposições ou proibições… estas são distorções de ganâncias humanas. A natureza não é gananciosa. A natureza supre, provê o todo para todos, para o bem comum.
Não consigo aceitar a razão de fronteiras ou bandeiras, sequer religiões ou qualquer forma de dominação. As leis e normas geralmente me instigam a subvertê-las… mas a liberdade plena é uma utopia inatingível na conjuntura social do mundo contemporâneo.
Não aceito mentiras, falsidades, sob qualquer pretexto. Se querem denegrir ou derrubar alguém, ou desacreditar algo, baseado em mentiras, alguma coisa está muito errada… e, com certeza, quem usa dessas artimanhas vale tão pouco quanto as inverdades que propala. Nos últimos anos, toda falsidade tem encontrado terreno fértil e tudo tem vindo à tona com muita intensidade.
Ando cansado de tanta falta de personalidade das pessoas.
A orbe humana, essa sociedade podre que tudo quer e nada faz, gira entorno de poucos; e essa gente tola pensa estar inserida… e os segue e, cegamente, não pensa… e não percebe que tudo ao seu redor controla, até a mais inocente das canções… e saem por aí, falando igual, agindo igual, vestindo igual, fazendo o mesmo e repercutindo as mesmas ideias e os mesmos ideais, tagarelando coisas que não faz a menor ideia do que seja… ecoando bordões banais, frases prontas e outras bobagens sem sentido.
Esse povo se arrasta, feito zumbi, no mais puro modismo social… e a moda é a mais irracional das expressões humanas.
Dentro da perspectiva espiritual imposta, sou ateu; mas esses que se acham tão espiritualizados, e mudam – deformam, na verdade – aquilo que acreditam ser “obra de Deus”… a tal “perfeição de Deus”… e me aparecem com essa de silicone aqui e ali, esse beiço de marreco, cara de plástico, paralisada por uma injeção de toxina… e fica aí com essa cara de boneca inflável, se achando a beleza divina. Isso não é belo, é estranho.
Não é mesmo fácil viver em uma sociedade subjugada…
Como em um mundo de ficção, pensei que, com o tempo, em meio a tanta facilidade de informações, as pessoas iriam perceber, ao menos, suas posições na sociedade, mas está cada dia pior.
Não é fácil permanecer calado…
Perdi a paciência com a estupidez e a cegueira social. O que antes eu engolia, agora cuspo na cara dos imbecis… e, assim, ando colecionando antipatias e inimizades.
Meu mundo anda cada vez mais vazio, mas – sinceramente – menos estúpido.
Afinal, meu lema, que adotei desde muito cedo, é: “Faça com que o mínimo possível de pessoas sofra com sua morte… perca amigos o quanto antes”.
E não, eu não posso ficar calado…
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