PORQUE A PANDEMIA AUMENTA AS DESIGUALDADES?
O QUE HÁ DE ERRADO NA PANDEMIA QUE, ALÉM DE MATAR, AUMENTA AS DESIGUALDADES SOCIAIS?
*Prof. Dr. Valmor Bolan
Quase um ano e meio depois da OMS ter declarado pandemia do coronavírus, estudos mostram que bilionários, no mundo todo, ficaram mais ricos com a crise sanitária, em dimensão mundial e no Brasil também. É o que indicam o relatório do Banco Mundial, intitulado “O Crescimento gradual e o rápido declínio da classe média na América Latina e Caribe”, estudos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), como também dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Isso comprova que a pandemia expôs de forma ainda mais explícita as desigualdades sociais, em vários aspectos. Segundo reportagem do jornalista Edelberto Behs, “a maioria dos novos bilionários, que aumentaram suas fortunas graças à revalorização das bolsas de valores, são empresários dos setores financeiros, telecomunicações, meios digitais de pagamento e saúde”. E acrescenta: “Segundo a revista Forbes, a região contava, no início de 2020, com 76 latino-americanos que tinham 1 bilhão de dólares (cerca de 5 bilhões de reais) ou mais em ativos, com um patrimônio conjunto que somava 284 bilhões de dólares (em torno de 1,5 trilhão de reais). Em 2021, dados de maio, o número de ricaços subiu para 107, com um patrimônio conjunto de 480 bilhões de dólares (cerca de 2,4 trilhões de reais)”. Nesse sentido, quando a realidade do trabalho on line (como também o da Educação) mostra claramente que a maioria da população, mesmo com acesso à internet, não tem meios adequados para suprir as novas demandas, acentuando assim a exclusão digital. Isso porquê para atuar nesse campo, faz-se necessário investimentos tecnológicos, e nem todos possuem meios para isso.
Outros estudos comprovam também que “a pandemia impôs uma lacuna aos estudantes de baixa renda”, como afirma o professor Ivan Claudio Siqueira, do Departamento de Informação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes da USP, em entrevista ao Jornal da USP. E observa: “Nós não temos, no Brasil, projetos que incluam todos os segmentos populacionais naquilo que é o básico. A educação é um elemento fundante para a própria sobrevivência, para as oportunidades de trabalho, para seu entendimento enquanto pessoa e para fruição e exercício da cidadania, como está na nossa Constituição”. A exclusão digital, portanto, é um dos aspectos mais perversos expostos pela pandemia. Nem todos têm acesso aos meios para atender as novas demandas trazidas pelas restrições impostas. É o que acrescenta o professor Ivan Cláudio Siqueira: ““ Vivemos hoje em um mundo onde a informação não é mais escassa, ela é encontrada em excesso. “O que você precisa saber é como você seleciona e onde você busca informação”. E mais ainda: nesse contexto, os mais ricos foram beneficiados.
Diante disso, precisamos buscar atuar no sentido de minimizar tais desigualdades, para que a saúde e a educação sejam realmente “direitos de todos”, como consta em nossa Constituição Federal. E também ofertas de trabalho, etc. É preciso que haja iniciativas tanto no campo legislativo, como também na sociedade, para que sejam possível melhores condições, para que a população não esteja tão vulnerável quanto à falta de oportunidades decorrentes da exclusão digital. Este é um desafio que se impõe a todos, principalmente em época de pandemia, quando se trata, principalmente, de salvar vidas.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.