GeralVia Poiesis

PRISÃO PERPÉTUA

(Por Cleusa Piovesan)

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Contagem regressiva 3, 2, 1… ainda bem que nem sempre sabemos para quê!

Sim. Sempre estamos lutando contra o tempo para alcançarmos algum objetivo, realizar um projeto, concretizar um sonho… mas o tempo é nosso inimigo, e tem o poder de nos fazer procrastinar… adiar um planejamento de meses ou anos, o carpe diem tem mais força do que nossa força de vontade.

Fazemos contagem regressiva para tudo, ignorando que contra o relógio qualquer ação é inútil. O trabalho nos obriga a sermos pontuais; a escola tem horário de início e término das aulas, assim como cultos e missas; eventos sociais têm data e hora marcadas; o ônibus ou o trem têm horário de partida e, mesmo que atrasem, se você não estiver lá, eles partem. A pontualidade é obrigação sua! Só a família e os amigos perdoam nossos atrasos… e nem sempre!

Em certas situações, a contagem regressiva é cruel conosco. A hora da despedida, seja breve ou definitiva, aprisiona-nos num tempo que não temos mais, queremos um prolongamento da alegria ou da dor, como se fosse um bálsamo para o distanciamento. Enganamo-nos, tentando reter um tempo que já não nos pertence, ficou detido apenas na memória e, na maioria das vezes, tentaremos esquecer.

Numa catástrofe anunciada não se respeita a contagem regressiva; quando a tragédia ocorre, a maioria das pessoas se apegou a bens materiais e não priorizou a vida. Alertas de segurança são dados, ações de retirada das pessoas do local, mas há os que insistem em não crer em dados, científicos e oficiais, e os que sobrevivem lamentam. O tempo é um trem descontrolado e sem condutor, e não há exército que o vença. Somos apenas escravos de um insano, que não é nem dono de si.

Há contagens regressivas programadas; estas, dependem da ação humana, apenas o apertar de um dedo num botão e tudo vai pelos ares! O progresso dita as regras do espaço a ser ocupado e o homem torna-se senhor de sua própria destruição para alavancá-lo, construindo rodovias, implodindo prédios antigos para dar lugar a novos, e assim, a malha viária se insere no processo de destruição do meio ambiente e a engenharia moderna rouba o passado histórico, representado pelo estilo arquitetônico de cada época, ou seja, quando o homem é o “senhor do tempo” ele consegue reduzir o tempo de existência dos recursos naturais e apagar vestígios dos que os antecederam. Não me parece uma grande ideia!

A contagem regressiva mais cruel é a que nos dá uma sentença de morte. Contra ela os dias se prolongam, numa agonia infernal, no aguardo de que o “booommm” ocorra o mais rápido possível, para extinguir o sofrimento, físico, no caso de doentes terminais e seus cuidadores, e psicológico, para estes e para os condenados à pena de morte ou em situações de violência extrema, em que as pessoas estão à mercê de marginais, sem saber o que será gatilho para suas ações. A iminência da morte, independentemente da situação, aciona uma bomba-relógio mental, e qualquer pessoa perde suas faculdades mentais quando a contagem regressiva se aproxima do “zero”.

Seja como for, estarmos condicionados à expectativa de momentos cruciais gera um sentimento de impotência, de inanição, por nos sabermos tão vulneráveis ao tempo. Ele está no comando! Não o percamos com situações que não merecem sua atenção, pois poderá ser tarde quando formos avaliar o tempo perdido lutando conta o que não há controle. Fiquemos atentos! O relógio não segue no sentido anti-horário… 3, 2, 1…

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