Reeducação alimentar: Por que é tão difícil manter a motivação?
Provavelmente você já esteve na situação em que gostaria de fazer uma mudança na sua rotina ou nos seus hábitos alimentares, seria bom para sua saúde, ajudaria eliminar peso e basicamente sabia mais ou menos como atingir esse objetivo, mas mesmo assim não conseguia iniciar ou avançar nessa mudança. Por que é tão difícil manter a motivação?
Comportamentos como: comer mais frutas, legumes e verduras, comer menos alimentos ultraprocessados ou beber mais água são objetivos aos quais comumente se aspira na mudança do comportamento alimentar. Depois de algumas tentativas mal sucedidas, talvez a conclusão à que se chega é que estava faltando motivação e não se conseguiu contribuir ou avançar mais nessa mudança. Mas, se parece importante e sabemos como fazer, por que é tão difícil se manter motivados para mudar o comportamento alimentar?
Quando mencionamos “falta motivação” acreditamos que a motivação é um recurso interno, algo dentro de nós, que se tem ou não disponível e que se dedica ou não para a mudança do comportamento alimentar. Na verdade, motivação é uma forma de se comportar que depende do que está acontecendo no ambiente e o que temos aprendido ao longo da nossa vida. Quando falamos que alguém está motivado, estamos descrevendo uma forma de agir: procurar caminhos diferentes para alcançar um objetivo, ser persistente no novo hábito.
Vamos dar um exemplo: uma pessoa quer trocar os salgadinhos no lanche por frutas. A pessoa deixa de comprar salgadinhos e ao invés disso começa a comprar frutas no mercado, prepara elas cada manhã, as leva consigo para quando precisar comer e recusa oferecimentos de salgadinhos de colegas e familiares. Diríamos que essa pessoa está motivada para mudar seu comportamento.
Isso em um exemplo simples. Falar que “tem motivação” ou “falta motivação” de forma única passa a mensagem errada, de que a mudança de comportamento é simples: “é só você querer, e você vai saber escolher frutas no mercado, vai ter utensílios para preparar e carregar, vai lembrar todas as manhãs de pegar sua fruta na geladeira e ainda vai recusar algo que você gosta!
Mas na realidade não é bem assim que funciona. Os salgadinhos, quanto as frutas têm alguma vantagem ou importância, no momento o salgadinho seria mais prático e de sabor agradável, já as frutas são as melhores para a saúde e benéficas a longo prazo. Porém, o prazer de comer o salgadinho é imediato e certeiro, ao invés de esperar resultados comendo frutas, o qual não temos garantia do resultado.
Como, então, propor intervenções e planejar nossas próprias mudanças de comportamento levando em consideração que a motivação é uma forma de se comportar?
- Inicialmente, detalhe quais são os comportamentos específicos que estão alinhados com o objetivo almejado, ou seja: como você se comportaria se estivesse motivado? No nosso exemplo de trocar salgadinhos por frutas, já listamos que seria necessário adquirir, preparar e levar as frutas.
- A seguir, analise o ambiente em que ocorre a mudança de comportamento. Nesse ambiente existem outros eventos que vão interferir ou facilitar a aquisição de novos comportamentos? No nosso exemplo, seria adequado perguntar em que momento da rotina será encaixado o preparo das frutas e qual vai ser o lembrete para não esquecê-las em casa. Se tem dias em que come mais salgadinhos que o habitual, o que no dia pode estar contribuindo para isso?
Esses dois primeiros passos podem ajudar a enxergar como a mudança de comportamento não é necessariamente simples e também não será tão rápida quanto imaginado. Também é importante identificar e planejar estratégias para colocar tudo em prática. Por fim, lembre-se que se a motivação não é um recurso, mas uma forma de se comportar, quebrar uma sequência não significa que o recurso acabou, apenas que não foi possível executar o comportamento da forma desejada nesse momento específico. Vale mais a pena identificar por que não foi possível agir como queria do que se culpar porque você não tem a motivação necessária para mudar.