TRAVESSIA
(Por Cleusa Piovesan)
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A história da “cruz e o precipício” serve de metáfora para o comportamento dos alunos. Quando chegam à escola é como se recebessem uma cruz para carregar, um fardo tão pesado do qual reclamam o tempo todo. Tudo é difícil, tudo não entendem, tudo é quase impossível de realizar.
Alguns veem essa cruz como parte do sacrifício (esforço) para atingir a glória (aprendizagem) e não reclamam, pois sabem que as dificuldades fazem parte da caminhada; outros, quase a maioria, no decorrer do trajeto, vão tentando aliviar o peso da cruz e vão cortando um pedaço dessa cruz a cada dificuldade, a cada problema que não conseguem resolver. É mais fácil copiar o trabalho pronto do colega, tentar colar durante as avaliações, negociar com o professor o trabalho atrasado, faltar no dia da prova e arrumar uma boa desculpa para fazê-la depois. E assim vão diminuindo o peso e encurtando o tamanho da cruz.
Mas, a escola é um precipício que os alunos têm de atravessar para chegar a ter uma formação científica, cultural, histórica e social básica para sua trajetória pessoal e profissional e sua formação cidadã.
E quando chegarem à beira do precipício, quem conseguiu carregar a cruz, mesmo com dificuldades, sem desanimar, com perseverança, com propósitos firmes, simplesmente põe a cruz sobre o precipício e faz a travessia, usando-a como ponte. Já, aqueles que tentaram enganar a si mesmos, aliviando o peso da cruz, chegam ao precipício e se dão conta de que não há atalhos, que os subterfúgios pelos quais se livraram de cumprir com a obrigação os fizeram parar. Não há como atravessar o precipício, a “ponte” que lhes permitiria fazer isso, é a cruz, da qual eles foram se desfazendo ao longo da caminhada.
A cruz, o precipício; a ponte. Ser ponte é o papel da escola. Não há como escolher o caminho que cada um vai trilhar, pois como diz Antônio Machado, escritor sevilhano “Caminante, no hay caminho, se hace el camino al andar”.
Cada um de nós faz suas escolhas e a escola não tem todas as respostas, mas é uma ponte, que proporciona os meios, promove discernimento, atua como mediadora entre os alunos e o conhecimento, é a cruz que permite a travessia.
Aonde cada um vai chegar não depende só do que aprendeu na escola, depende de empenho pessoal, dos valores que se cristalizaram durante o processo de formação, das necessidades de cada um e das oportunidades que a vida oferece. Ao concluir uma etapa, é o precipício da vida que espera cada um e saber carregar cruzes e construir pontes pode ser o diferencial para atingir o sucesso.
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