GeralVia Poiesis

UM CÉU IMERSO EM LAVAS

(Uma crônica de Claudemir M. Moreira)

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Ando preferindo o inferno…

Na verdade, não acredito em nada disso… 

Energia que somos, sutil ou absurdamente condensada, um dia seremos dissipados…

A matéria é cíclica, a energia é cíclica, mas a consciência, finita.

Não acredito no paraíso… mas suponhamos que haja o utópico céu e o tão temido inferno… 

Pois bem… o que se descreve como Céu, das fábulas infantis à Comédia, de Dante, é deprimente, para mim. Aquela coisa toda de gramadinho verde, campo florido, céu azul de nuvens fofinhas, e toda aquela hierarquia angelical, com seus anjos, arcanjos, serafins e querubins (nem sei qual é a ordem!); o povo todo de branco, com aquele ar de uma felicidade tão falsa, que seria capaz de lhe agradecer por um soco no flanco… isso mais parece um episódio dos Teletubbies… sinceramente, prefiro as tragédias dantescas do inferno.

O Céu não seria para mim…

Gosto do barulho, do som forte e alto… gosto de uma boa cerveja e de um bom vinho; conversas bobas e despretensiosas… gosto dos prazeres mundanos. Prefiro os rebeldes e excluídos, aos puritanos de fim de semana. Prefiro os loucos e destemidos, aos tementes inconscientes… 

Este Céu sectário e classista não seria melhor que o inferno…

E se todos esses cristãos de internet, essa gente-de-bem politiqueira, os que se colocam acima de tudo e de todos, os que se acham herdeiros únicos da doutrina de Cristo, os que menosprezam as crenças de outrem, os que pensam que seu retrógrado padrão de vida é moralmente mais justo, mais certo ou ético que aos que experimentam padrões mais modernos de vida; se toda essa gente falsa, fútil e arrogante está com seus “pacotes” pagos com estadia divina eterna… desse Céu, quero distância. E, sendo assim, se o contrário disso tudo é o inferno… “Aloha”, Capiroto!

Não quero sentar ao lado dessa gente arrogante, que deseja a morte dos fracos, o fracasso dos divergentes, o mal dos infortunados e a derrota dos desgraçados.

Minha religião é a vida, minha fé paira sobre as belezas naturais do mundo… minha igreja é a paz que habita em mim… quando há chances de ter paz. Eu sou o meu templo, minha indulgência é o ódio que por vezes ocupa o lugar da paz… e não, não há contradição; o ódio é a força motriz que supera o medo e suprime o mal… e aqui não há lugar para um deus iracundo e vingativo… minha consciência é meu guia.

Certa vez, sonhei com o Céu em chamas… e Deus estava lá, com ar sarcástico, olhando para mim…

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