UM POUCO SOBRE O TEMPO HISTÓRICO (PARTE 1-2
Noutros artigos já falei sobre teorias da história – ou seja, a escrita da história, a historiografia em si. A forma como a história humana se desenrola é constante, e vai mudando. Porém, a maneira como é descrita, analisada, muda conforme cada época. Vamos revisitar alguns pontos sobre isso? A historiadora Andréia Camera Radaelli, nos ajudará nessa viagem no tempo – breve e com muitos saltos, devido ao espaço deste artigo.
Chamado de o “Pai da Historia” o grego Heródoto de Halicarnassos (485-425. a.C.), em vez de seguir a visão sem tempo definido, eterno ou ainda, atemporal tão comum na cultura grega, fez o oposto: ficou interessado nas mudanças na história. O primeiro historiador do Ocidente deixou os mitos de lado, e buscou um apego aos fatos históricos. Não que fosse perfeita toda observação dele, no entanto, gostava de história mais recente, um “presente quente” ainda, como se buscasse relatar o que via e ouvia. Descrever as mudanças sociais pode parecer algo simples, mas fazer isso há uns 2.500 anos, era algo diferente.
Com o advento da Idade Média, obviamente, a forma como a história era vista e descrita, era predominantemente religiosa, onde a Igreja Católica passou a narrar a história de acordo com a visão de mundo dela. O cristianismo reinava absoluto, e assim, a temporalidade humana tinha outro aspecto. “É no Cristianismo que se pauta o presente”, explica, Radaelli, “pela rememoração dos acontecimentos milagrosos do passado. O tempo é marcado pela comemoração litúrgica, santos e mártires são relembrados em datas precisas.” Toda uma filosofia de cunho teológico foi sendo desenvolvida. Santo Agostinho foi um desses pensadores – ele se dedicou em questões como o tempo, sem deixar o teor divino de lado. Frisou ainda que o passado, presente e futuro são um só, num presente contínuo.
Com a dita Era Moderna, a visão sobre o tempo foi mudando, numa perspectiva mais concreta. A importância da temporalidade toma conta. Passamos a olhar pro relógio direto, ou noutras palavras: seguimos horários, e o historiador passa a ver que a mudança está em todas as esferas do cotidiano, e a figura do ser humano passa a ser mundana, finita. Heródoto foi revisitado, digamos. O filósofo Kant também abordou sobre o tempo, num aspecto filosófico. Mas, no campo historiográfico, nesse período “Moderno” sobretudo… quem escrevia a história? Quais olhos narravam? Generais, reis, políticos, elites. Uma história tradicional, positivista permeava o Ocidente: era como se as sociedades tivessem um destino traçado na historiografia do pensamento positivo. Entretanto, tal narrativa ignorava muito da sociedade, onde o soldado, não tinha nome – era somente um entre muitos anônimos, um número.
(continua…)
Referência Bibliográfica:
RADAELLI, Andréia Camera. O Tempo dos Annales: Bloch e Febvre. In: SCHNEIDER, Claídes Rejane; SILVA, Cleverton Luiz da (Orgs.). História: traços de cultura e memória. Francisco Beltrão: Grafisul, 2010. p. 229-250.