Águas do Interior (4): A água dos poços artesianos não é segura sem cloro
Ivonete Terezinha Tremea Plein
Ao escolher o poço artesiano como forma de abastecimento de água, as autoridades políticas, equipe técnica e população devem levar em consideração muitos fatores, pois não há garantias de que aquele poço irá fornecer água em quantidade e qualidade adequada às necessidades de consumo humano.
A população que sofre com a falta de água potável, sobretudo nas localidades do interior, tem visto nas SAC – Solução Alternativa Coletiva – uma fonte de esperança para ter água disponível e amenizar suas dificuldades, já que esta água se destina unicamente para o consumo humano. Um agricultor exemplificou “Certeza que a água desse poço que temo agora aqui na associação não vai acabar nunca, ele é muito fundo, mais de 150 metros e por baixo dessa camada de terra e pedra que a gente enxerga é só água que tem” (Entrevista, 2023).
A pesquisa utilizou dados do Ministério da Saúde de 2021 e 2022, identificando níveis muito altos de contaminação dessas águas. O mapa temático mostra a contaminação por Escherichia coli nos municípios da 8ª Regional de Saúde de Francisco Beltrão, nas amostras de água das SAC, de 2022.

Percebe-se que todos os municípios apresentam pelo menos uma amostra contaminada por Escherichia coli em 2022. Ainda chama atenção o fato de que em 2022, 12 municípios apresentaram mais de 26% das amostras contaminadas, chegando em até 59% em 5 deles.
Em um desses municípios o técnico explicou os números do relatório do Sisagua que mostrava no seu computador:
Você vê que aqui no nosso relatório, temos uma situação considerada grave com um dos parâmetros que você está estudando […]. Aqui fazemos um trabalho conjunto com outras secretarias, como agricultura e meio ambiente, para tentar diminuir os problemas de contaminação, mas não está fácil. […] A contaminação por Escherichia coli é muito perigosa, tem muitos casos de pessoas que ficam doentes, as crianças e idosos tem diarreias severas e acabam sobrecarregando o sistema de saúde, faltam na escola e vira um problema cada vez maior […] Agora estamos fazendo reuniões e um planejamento, pedindo até ajuda para a Regional de Saúde, vamos tentar iniciar um trabalho com os presidentes das associações para conscientizar o pessoal que o jeito é colocarem o hipoclorito que recebem de graça, mas não colocam (Entrevista, 2023).
Ao ter conhecimento sobre a gravidade da situação os técnicos da Vigilância Sanitária, juntamente com outros órgãos de saúde, fazem um planejamento e orientam os usuários a seguir as normativas, o que claramente é insuficiente. O planejamento de uma outra forma de abordagem para que os usuários tenham consciência das consequências das suas ações pode ser um caminho mais assertivo para atender o disposto na Portaria GM/MS nº 888, que preconiza para as SAC, de mananciais subterrâneos, a aplicação de cloro mesmo que não tenha contaminação por Escherichia coli.
Art. 31 Os sistemas ou soluções alternativas coletivas de abastecimento de água supridas por manancial subterrâneo com ausência de contaminação por Escherichia coli devem adicionar agente desinfetante, conforme as disposições contidas no Art. 32 […] É obrigatória a manutenção de, no mínimo, 0,2 mg/L de cloro residual livre ou 2 mg/L de cloro residual combinado ou de 0,2 mg/L de dióxido de cloro em toda a extensão do sistema de distribuição (reservatório e rede) e nos pontos de consumo (Brasil, 2021b).
A Educação Ambiental é trazida à tona como a forma de conscientizar a população para os cuidados necessários e as consequências dos problemas de contaminação da água. Um dos objetivos fundamentais da educação é a complementariedade entre as abordagens analíticas e sistêmicas.
A contaminação por Escherichia coli é evitando utilizando-se cloro na água. No entanto, há grande resistência da população em fazê-lo. Vamos mostrar dados sobre isso no próximo mês em todos os municípios da 8ª Regional. E você: prefere água sem cloro e contaminada ou a tranquilidade de ter água potável em sua casa para sua família?
Durante a pesquisa foi desenvolvida uma ferramenta de fácil utilização onde encontram-se sistematizados em forma de gráficos, todos os resultados por município, disponíveis no link: https://qr-codes.io/6PSFOZ e no QR Code (QR Scanner MixerBax)

Nota:
Esse artigo compõe um conjunto de publicações com resultados da Tese Águas do Interior: Soluções Alternativas Coletivas na 8ª Regional de Saúde do Paraná sob orientação da Professora Rosana Cristina Biral Leme (Doutorado em Geografia – UNIOESTE). Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/7398
Ivonete T. T. Plein
Doutora em Geografia – UNIOESTE
Técnica em Assuntos Educacionais – UTFPR
Currículo: http://lattes.cnpq.br/5475663157110517