A ALIMENTAÇÃO DE NOSSAS CRIANÇAS
*Prof. Dr. Valmor Bolan
O cuidado com a saúde se tornou uma preocupação crescente. Nesse sentido, é preciso garantir o fortalecimento do nosso sistema imunológico. Mas poucos levam em conta a necessidade de uma boa alimentação, especialmente as crianças. Nas últimas décadas, bombardeadas pela propaganda da mídia, com um marketing agressivo, induziu a maioria das pessoas a um estilo de vida consumista, sem discernir sobre a qualidade dos produtos, principalmente no que se refere à alimentação. Na pressa do dia-a-dia, e com lógica utilitária, muitos comem qualquer coisa, para ganhar tempo, deixando de lado hábitos saudáveis fundamentais. E também alimentos naturais (frutas, cereais, legumes….). As crianças dos grandes centros urbanos ficam mais vulneráveis aos apelos do mercado, e estão consumindo cada vez mais alimentos ultraprocessados, seguindo, muitas vezes o exemplo dos pais, que não tem tempo para uma atenção mais especial a uma alimentação preparada em casa, e com mais qualidade nutricional. Por isso temos visto crescer também problemas de saúde, não apenas entre adultos e idosos, mas também entre jovens e crianças.
Segundo reportagem da EcoDebate, “Dados inéditos do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019) mostram que, em 2019, 80% das crianças brasileiras até 5 anos já consumiam alimentos ultraprocessados, como biscoitos, farinhas instantâneas, refrigerantes e bebidas açucaradas, dentre outros produtos nocivos à saúde. A prática é comum inclusive entre bebês menores de 2 anos, o que pode trazer consequências ao longo de toda a vida, como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares”. E acrescenta: “O quadro de alta prevalência de consumo de ultraprocessados é agravado pela baixa ingestão de frutas e hortaliças, que deveriam compor a base da alimentação infantil”. Para o coordenador-geral do ENANI-2019, Gilberto Kac, que também é pesquisador do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “no dia anterior à realização da entrevista com as famílias, 22,2% dos bebês de 6 meses a 2 anos e 27,4% das crianças de 2 a 5 anos não haviam consumido nem frutas nem hortaliças. A situação é mais preocupante na região Norte, onde, na véspera da entrevista, um terço (29,4%) dos bebês de até 2 anos não havia comido nem frutas nem hortaliças e a maioria deles (84,5%) tinha consumido ultraprocessados”. A pesquisa feita também observou a falta de consumo de água pura. “O consumo de água pura, que é indicado a partir dos seis meses, no início da introdução alimentar, também chama atenção dos pesquisadores do ENANI-2019. O estudo aponta que a prevalência do consumo de água pura entre crianças de até 5 anos no dia anterior ao do estudo foi de 72,1% no país. “Isso significa que um quarto (27,9%) das crianças brasileiras nessa faixa etária não consumiu água pura no dia anterior à entrevista”, aponta Kac. As menores prevalências estão nas regiões Sul (47,4%) e Norte (49,1%) e as maiores nas regiões Sudeste (80,4%), Nordeste (79,8%) e Centro-Oeste (77,1%)”.
Os dados do ENANI-2019 mostram que precisamos estar mais atentos à educação alimentar de nossas crianças. Isso é responsabilidade primeira dos pais, que devem receber apoio para que consigam atender, da melhor forma, essa demanda. Professores e demais profissionais da Educação, desde o Ensino Infantil, podem colaborar no sentido de levar informações aos pais, para que haja mais conscientização do quanto é importante cuidar da alimentação dos filhos. Todos devem estar envolvidos nesse trabalho, a família e a escola, para que as crianças tenham uma educação também alimentar, que garanta saúde física, emocional e psicológica, condições propícias para o desenvolvimento integral de suas potencialidades como pessoa.
Valmor Bolan é Doutor em Sociologia. Professor da Unisa. Ex-reitor e Dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Pós-graduado (em Gestão Universitária pela OUI-Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal-Canadá.