GeralVia Poiesis

A dentadura foi para o mar

(Joceane Priamo)

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Você já encontrou algo esquisito na praia e já ficou se perguntando o que será que aconteceu? Como isso veio parar aqui na minha frente? Não são poucas as vezes que ficamos sem saber sobre os verdadeiros acontecimentos dos fatos, independente das versões, alguém nos oferece uma visão e nossos olhares tiram as próprias conclusões.

Foi mais ou menos assim que aconteceu com o senhor Agenor, homem simples e trabalhador, passou grande parte dos anos dedicando-se aos compromissos da vida: manter o sustento da família e a integridade de um lar. Enquanto o senhor Agenor tentava desfrutar o seu merecido aposento, Robinho, um jovem rapaz, crescido num berço de ouro, embriagado, cambaleava na beira do mar, ambos foram surpreendidos pelas tragédias do destino que com o tempo se tornam engraçadas e valem a pena lembrar.

Robinho tinha todos os motivos para ser um jovem perdido, sempre ganhou tudo tão fácil que não via razões pelo que lutar, com tanta fortuna, sabia desde pequeno que a vida lhe estava garantida e que não teria com o que se preocupar, no entanto, o que ninguém desconfia é que até quem tem os bolsos cheios de dinheiro carrega a sensação de que algo lhe falta e que nem tudo que é bom tem um valor e garantia de que se possa comprar.

Você já deve estar se perguntando aonde essa história vai chegar? Que relação há entre o Agenor aposentado e o playboy que cambaleava na beira do mar? Calma! Eu já vou lhe contar. Como eu disse, o destino também gosta de brincar com as pessoas, e é entre risos e lamentos que se criam histórias, que um dia viram apenas memórias, das quais rimos ao recordar.

Robinho estava prestes a ver o sol raiar, deitado sobre a areia, algo toca as suas mãos, não era uma sereia nem uma joia preciosa, era um presente do mar. Ele olha com estranheza, segura com força, observa o formato, ri e se pergunta: como isso veio parar aqui? Uma dentadura que deveria estar na boca de alguém, agora era um troféu nas suas mãos. A surpresa foi tanta que ele não pensou duas vezes – alguém deve tê-la perdido, vou anunciar no jornal.

Seja no interior ou no litoral, em cidadezinha pequena tudo vira manchete principal, e ainda no mesmo, foi publicado o destaque: Dentadura encontrada no mar, se alguém a perdeu, pode vir retirar. O que ninguém esperava é que no meio dessa piada ia aparecer o senhor Agenor, que teve a sorte de ler o anúncio e pulou de alegria, pois já estava cansado de tanto procurar pela sua dentadura perdida no mar.

Ao entregar a danada, só tinha algo que Robinho queria saber: senhor Agenor, conte-me como essa proeza aconteceu? Ele com sorriso ainda banguela disse: meu jovem, quando se é um sobrevivente a gente olha para o destino e ri alto na esperança que tudo pode melhorar. Foi meu primeiro banho de mar, senti como se fosse um menino de novo, saltei cada onda como alguém que cai e levanta quando está aprendendo a caminhar. Foi entre a nostalgia de um velho em busca da infância que a malvada saltou de minha boca, indo ao encontro do mar. Eu até gritei para que as pessoas me ajudassem a procurar, mas apenas uma mocinha pareceu interessada em procurar, infelizmente, logo desistiu quando soube que os dentes não eram de ouro. O lado bom da vida, meu jovem, é que as ondas que levam são as mesmas que trazem, e cabe a nós ficarmos parados, olhando os movimentos ou buscarmos por algo que está nos faltando.

Depois de muitos anos, Robinho olha para o seu diploma na parede do seu consultório e se questiona: se hoje eu contar como eu vim parar aqui, será que alguém acredita?

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