A HISTÓRIA DE NÓS MESMOS
Apesar de constante, nunca me considerei um leitor daqueles ferozes, devoradores de livros. Mas nos últimos dias, sem me dar conta, percebi que li um livro de mais de 350 páginas em menos de uma semana. Esse número para alguns talvez seja até motivo de piada. Para outros, motivo de admiração. Para mim, talvez tenha sido um recorde no quesito tempo x número de páginas. A verdade é que estava bom demais.
A grande questão é que esse livro recordista em meu guinness particular tem um significado muito particular. Sempre gostei de biografias, sejam as “auto” ou escritas por terceiros. E, mesmo sendo um athleticano fanático desde que tenho as primeiras lembranças futebolísticas na mente, nunca havia lido a biografia do maior jogador da história do clube: Barcímio Sicupira. O maior artilheiro de todos os tempos com a camisa rubro-negra teve sua vida dentro e fora dos campos contada pelo jornalista Sandro Moser em uma obra lançada em 2020. Eu, obviamente, sabia da existência do livro, mas sempre ia esquecendo, deixando para depois. Até que chega o dia em que ele estava em minhas mãos. De começo, achei que seria um processo mais longo e cansativo, afinal, toda história contada com detalhes demanda um tanto de paciência extra. Feliz engano de minha parte. A paciência virou vício.
Costumo dizer que um dos maiores prazeres como redator é quando o leitor se vê e se identifica naquilo que escrevemos. O livro sobre Sicupira traz, além da trajetória do maior de todos no Athletico, uma viagem pela nossa própria história. Com passagens marcantes pelo Paraná dos anos 1960 e 1970, especialmente por Curitiba e outras cidades importantes com uma visão cultural, política e até mesmo antropológica, trazendo descobertas, respostas e motivos de tantas coisas terem acontecido. Alguns trechos citam até mesmo jogos contra o antigo Palmeiras de Pato Branco. Alguém aí lembra? Tudo isso, no fundo, tem um gostinho doce. A doce descoberta sobre tanto de nós mesmos, dos nossos antepassados e do chão em que nascemos e vivemos. E como é doce.
O Eduardo Bueno tem duas frases célebres que dizem muito sobre isso: “povo que não conhece a sua história está fadado a repeti-la” e “quem não sabe de onde veio, não sabe para onde vai”. E foi lendo esse livro que pude conectar os fatos ali contados com algumas das histórias que meu avô dizia sobre aquela época, como os enfurecidos jogos em União da Vitória, onde nasceu, conheceu o Athletico e se apaixonou pelo clube vendo exatamente o time daquela época jogar. Aliás, o próprio Sandro – o autor – e sua família vieram de União da Vitória também. Mais uma boa coincidência da vida que pude inclusive compartilhar com o próprio Sandro, numa conversa rápida.
Bom, se a semana trouxesse uma dica, a desta seria não apenas para dedicar mais tempo e atenção à leitura, talvez até a ponto de ler mais de 350 páginas em menos de uma semana e nem se perceber, de tão agradável. Mas, mais do que isso, a dica é conhecer a nossa própria história. E as vezes ela está onde menos esperamos. Até mesmo nas entrelinhas da biografia de um jogador histórico. Obrigado por mais esse gol, Sicupira.