Coluna PET

A LONGEVIDADE, A QUALIDADE DE VIDA E A FUTILIDADE

Importantes companhias para muitos, principalmente nestes últimos meses, onde a pandemia jogou-nos em reclusão em nossos próprios lares, os animais de estimação têm contribuído muito para a manutenção do bem-estar e estado emocional – principalmente – das crianças e idosos.

Os benefícios da relação com animais vão além dos benefícios psíquicos. Há mais de duas décadas, pesquisas revelam melhoras na frequência cardíaca e níveis de pressão arterial de pessoas que convivem com animais de estimação.

Os cuidados com os animais vêm aumentando rapidamente, mas, na verdade, deixa muito a desejar em relação à saúde e qualidade de vida, relacionadas à longevidade.

Essa onda de “amor pelos animais” – obviamente, como tudo neste mundo, maquinado por algum grupo com interesses escusos – mudou a atitude de muitas pessoas, antes aversas, para com a vida e o modo como estes animais participam dentro da estrutura familiar. Aquela velha imagem de um animal preso por correntes, no fundo do terreno, fora substituída – ao extremo – por animais dominando o interior dos lares.

Sinto muito… mas ambas as imagens (as correntes e o abandono e o exagero de liberdade) são visões e atitudes extremistas… e isto – como em tudo que é levado ao extremo – não é nada bom… e pra ninguém… além, é claro, para aqueles que antes financiaram esta “causa”, obviamente, visando lucros. Não estou dizendo que o fato de você ter animais dentro de casa é ruim ou errado… somente não precisa deixar-se levar, inconscientemente, pela mercadização ou por imposições escusamente inseridas no contexto de vida moderna, a benefício meramente econômico de um grupo.

Inserir a rotina de vida dos seres humanos e, assim, incorporar maus hábitos ao cotidiano, privando o instinto e hábitos naturais saudáveis dos animais, é um erro que reflete diretamente na expectativa de vida destes seres, além de causar alterações de comportamento, muitas vezes desastrosas.

O artigo “The Compression of Morbidity” (A Compressão da Morbidade), do Dr James F Fries, médico, professor na “Stanford University”, publicado no periódico “The Milbank Quarterly”, Nova York, EUA, em 1983, traz um tratado sobre as questões que envolvem a idade e a define como um complexo e progressivo processo fisiológico, que acarreta em uma limitação gradual na capacidade de um indivíduo em manter a homeostasia ou equilíbrio metabólico, acarretando em uma maior vulnerabilidade a doenças, a outras imtempéries da vida ou de reações resultantes de sua própria imunidade ou metabolismo, colocando-o cada vez mais próximo da morte.

O tempo médio de vida de um ser está relacionado a fatores genotípicos (geneticamente herdados) e fenotípicos (influenciados pelo ambiente). Esta relação entre expressão genética e influência fenotípica, que determina, de certa forma, a longevidade de um indivíduo, pode ser estudada com a finalidade de melhorar as condições biológicas de sobrevivência, levando-o a uma maior qualidade de vida e, desta forma, a uma maior longevidade.

Infelizmente, todo ser vivo passa por fases de desenvolvimento, alcançando uma fase de estabilização ou maturidade, o que chamamos, para os animais, de fase adulta, para depois declinar, em um processo progressivo de envelhecimento, até sua morte. Não há como mudar isto, mas há como usar de medidas preventivas para melhorar a qualidade de vida.

Em cães, sabemos que a longevidade é determinada por fatores como porte e raça, mas há uma complexidade determinada por vários outros fatores, incluindo a busca desenfreada para atender à demanda de futilidades mediadas por modismo, levando a animais cada vez mais distantes de suas características naturais, como animais cada vez menores ou mais “submissos” à vontade humana. A perda de seus instintos ou a “seleção inversa” de características corporais influenciam diretamente na saúde, na qualidade de vida e na longevidade destes animais.

Normalmente, cães de pequeno porte têm uma longevidade maior que os de grande porte.

Um trabalho de pesquisa realizado na Grande São Paulo (região que reúne 39 municípios), mostrou que a expectativa média de vida dos cães (consideradas as morbidades), naquela área, chega a ser de três a quatro vezes menor que a média, quando comparado com países de “Primeiro Mundo”, como Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca e Japão (“Expectativa de Vida e Causas de Morte em Cães na Área Metropolitana de São Paulo” – Henri D. L. Bentubo et al, Ciência Rural, Universidade Federal de Santa Maria, 2007). Não há muitos trabalhos que tratam deste assunto, no Brasil, mas esta média, com certeza, reflete a realidade do país. Esta pesquisa mostra uma média de vida de 36 meses, contrapondo a 120 meses na Dinamarca; 117, nos Estados unidos; 132, na Inglaterra e 99 meses, no Japão. Isto reflete “a necessidade de se investigar outras regiões e se pensar em medidas gerais para o aumento da sobrevida dos animais de estimação em nosso país”.

Assim como nos humanos, diversas são as causas de mortalidade em cães e outros animais de estimação. Mas, se levarmos em conta os dados apresentados nesta pesquisa em relação ao uso da nutracêutica em países desenvolvidos, comparado a nosso país, pode nos levar ao entendimento – ao menos parcial – do porquê desta grande diferença. Nestes países, o uso de produtos nutracêuticos (suplementos alimentares, com compostos bioativos, capazes de melhorar a qualidade de vida de um indivíduo), em humanos e animais, é muito maior que no Brasil. No Japão, por exemplo, a importância é tão notável, que levou o MHLW – Ministry of Health, Labour and Welfare (o Ministério da Saúde japonês) a criar uma categoria específica para os nutracêuticos, chamada de FOSHU, que, em inglês, quer dizer: “Food For Specified Health Use” ou, em português: Alimentos Para Uso Medicinal Específico. O consumo de produtos nutracêuticos nestes países chega a ser 80 vezes maior que em nosso país. A importância destas substâncias como preventivo de doenças ou de reações ou lesões decorrentes da idade é altamente relevante. Já no Brasil, infelizmente, mesmo em se tratando de produtos para animais, a importância dessas substâncias limita-se ao mercado cosmético, o que coloca o país como 3º maior mercado do mundo. Afinal… o que esperar de um país onde a futilidade sobressai à saúde?