GeralVia Poiesis

A manipulação das datas comemorativas

(Por Joceane Priamo)

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Uma tabela de cores é construída ao redor dos números do calendário, cada destaque está relacionado a uma temática que merece uma comemoração, esses dias são mais importantes do que os demais, por isso, o vermelho chama a sua atenção.

Iniciamos em clima de paz e amor no janeiro branco, férias escolares, turismo faturando com o merecido descanso das famílias. Logo em seguida, precisamos nos preparar com os presentes que o ano nos reserva: IPVA, IPTU, Imposto de renda e tudo aquilo que recebemos com a inicial I (iiii…lascou), no entanto, precisamos ficar animados, uma grande festa cultural, também, nos aguarda: o famoso carnaval. A nudez dos corpos pintados é o maior destaque nacional.

O terceiro mês inicia e alguns enfrentam um grande desafio: encomendar as flores para presentear as mulheres no dia 08 de março. O relógio bate às 18h e vemos a corrida dos homens atrás de um agrado; os mais românticos as levam para jantar, e há aqueles que sempre esquecem, se você falhou nesta data, não se preocupe, as mulheres sempre farão questão de lembrar.

Alguns tentam compensar o presente com a próxima comemoração: a páscoa. O coelho que nunca botou um ovo ganha a fama com esplendor e os preços acompanham com devoção, disparam o valor como se o chocolate tivesse uma pitada de algum ingrediente muito especial.

Iniciamos o mês de maio com o dia do trabalho e para não esquecer a quem damos mais trabalho, também comemoramos o dia das mães. A data ocupa o topo das vendas, merece o pódio dos presentes, não se limita a um objeto específico, e para alegria do comércio ela é favorável a vários departamentos, além de ser a salvação do momento.

Aqui no sul o clima começa esfriar, por isso os meses de junho e julho nos lembram que precisamos nos manter aquecidos com um delicioso quentão. Viva a São João! Viva a tradição! Festa junina e julina são acompanhadas por muitas comidas e rifas dos sinhozinhos e da sinhazinhas para manter a herança cultural. O segredo é não ficar parado, você já pode aproveitar as festanças para encontrar o seu par, e juntos podem comemorar, também, o dia dos namorados.

Quando pensamos que vamos respirar, vem o dia dos pais, a quem não podemos esquecer, jamais. Mês de agosto, também é direcionado para o homem que devemos mostrar nosso amor, e nada melhor que um presente para dizer o quanto um pai é especial.

Seguindo o mesmo raciocínio, lembramos do amor nacional, afinal, devemos mostrar nosso patriotismo com o dia da independência, mesmo que às vezes o grito seja mais de desespero e de dor. Não sei dizer se este mês amarelo foi escolhido pela semelhança ou se tudo é uma mera coincidência.

Outubro inicia com muita alegria e diversão, mês das crianças, fim de ano se aproxima, o décimo terceiro está perto. Brincadeiras e brinquedos à parte, o mês cor de rosa nos chama atenção sobre o câncer de mama, o grande vilão, realmente, merece a nossa precaução.

Até aqui, lembramos de muitas datas importantes, o novembro azul chama atenção ao público masculino para que eles, também, tenham mais cuidados. E aqueles que não estão mais aqui não podem ficar de lado, nossos entes queridos merecem ser lembrados, mesmo que seja só um dia no ano, dia dos finados.

Num piscar de olhos o ano chega ao fim, o papai Noel do polo norte surge aqui no sul como alguém que diz: você é importante para mim. Esse período é fenomenal, o mês lidera as vendas, tudo serve para presente porque é dezembro e dia 25 é natal.

Assim, diante da rispidez de minhas palavras passamos pelo ano cheio de festas. O verdadeiro sentido de algumas datas é substituído por uma comemoração banal, basta olhar para o Cristo, que muitas vezes nem é lembrado no natal.

O mapa da manipulação é programado para você dar lucro o ano inteiro. A linda armadilha dessa matrix induz ao consumismo que é sinônimo de uma vida feliz.  Isso que nem destacamos os dias dos santos, dos aniversariantes e dia das profissões de louvor ( dia do médico, do enfermeiro, do professor…) que são datas importantes.

Você deve estar pensando: essa pessoa não gosta de datas comemorativas – não sou contra nem a favor, mas muitas vezes fico me perguntando: Quando os objetos se tornaram a maior prova de amor?

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