Comunicação

A pesada cobertura do caso Kiss

Oito anos se passaram desde aquela inesquecível tragédia na boate Kiss, em Santa Maria – RS. Nesse longo tempo, muita coisa aconteceu – menos na justiça brasileira. Mas se oito anos são longos para nós, que vemos de longe, imagine para as famílias que ficaram apenas com a dor da perda de muita gente que tinha muito pela frente. Ou para os réus que, com mais ou menos culpa, viveram na ansiedade de um veredito que nunca chegava e que dele dependia o resto de suas vidas.

Durante os vários dias de julgamento, a mídia nacional – principalmente aqui do Sul – repercutiu cada depoimento, cada detalhe, cada argumento, cada grito e cada lágrima. E teve muito de tudo isso. Em paralelo a cada novidade, o tribunal das redes sociais também estava presente. Como já falamos por várias e várias vezes, a chegada delas fez de toda e qualquer pessoa também um comentarista de todo e qualquer assunto. 

A cada publicação, com abordagens e tons diferentes, tirei alguns minutos para fazer o “melhor” (com todas as aspas possíveis) a se fazer nesse ambiente: ler os comentários populares. É estranho, muito estranho, pois não é sempre que um julgamento acontece mais por atitudes irresponsáveis do que por verdadeiras intenções de fazer algum mal. Afinal, até então, era apenas um dia normal de festa, onde alguém negligenciou algumas questões de segurança e – acredito eu – nunca imaginou que isso causaria o que causou. No mais, além disso, eram apenas pessoas comuns realizando suas funções de trabalho. O caso do assistente da banda, por exemplo, foi um dos mais comentados. Foi até lá realizar um trabalho normal em sua concepção para ganhar um cachê não muito volumoso. Acabou condenado por homicídio e ficará alguns bons anos do que resta da sua vida atrás das grades.

Eu, particularmente, prefiro ser apenas espectador do fardo pesado dessa cobertura e dos comentários de redes sociais. Não quero me aprofundar além disso no mérito de quem realmente teve culpa, até porque as possibilidades são muitas. O fato é que tudo isso não trará de volta todos que se foram. E, em muitos casos, esse sentimento de justiça não amenizará nem um pouco dessa dor gigante. Porém, com certeza, um duro castigo também ficará com quem ainda vive. Aliás, cabe dizer que tudo isso me ensinou que a linha entre justiça e vingança é muito tênue. E me relembrou algo que já sabia: tudo pode ser feito, julgado e condenado. Isso tem solução. O que não tem solução é perder alguém que amamos. Isso nunca será resolvido.