GeralVia Poiesis

Aprender a conviver

(Uma crônica de Cláudio Loes)

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Com o passar dos anos, percebe-se que deixamos de conviver e tornamo-nos solitários, perdemos a nossa capacidade de agir como um organismo vivo, como uma verdadeira sociedade humana.

Os resultados nós conhecemos e estamos sentindo e vivendo os efeitos desse modelo individualista, e no extremo predatório. Deixamos de viver bem em função de atitudes e de ações que degeneram a nossa vida e a dos outros.

Nesse sentido, a Unesco, em um dos quatro pilares da educação, elegeu o “aprender a conviver” como alavanca para melhorar as condições de nossa vida, mas, o que vem a ser aprender a conviver?

Inicialmente, o que é aprender? Se formos ao dicionário, aprender é “tomar conhecimento; reter na memória mediante o estudo, a observação ou a experiência; tornar-se apto ou capaz de alguma coisa, em consequência de estudo, observação ou experiência”.

Em todas as definições acima, vemos que o aprender está relacionado ao outro, a quem está ao nosso lado, portanto, dizer que se aprende sozinho é uma mera informação adquirida, que não tem valor algum se não estiver relacionada com a experiência do outro. Precisa-se do outro para aprender.

Como estamos acostumados a, simplesmente, competir, o aprendizado deixa de existir. Não somos nós que aprendemos, mas sim o grupo de pessoas com as quais estivermos envolvidos é que aprende. E nós, como parte dele, estaremos aprendendo na experiência de estar junto. Porque, então, aprender a conviver é necessário? O próprio aprender tem como condição o estar com os outros.

Precisamos procurar a definição de conviver… conviver é viver em comum com o outro, estar na sua intimidade e familiaridade. O que percebemos é que conviver, muitas vezes, é confundido com o simples ato de estar num grupo de pessoas, que podem até ter objetivos em comum, mas não convivem.

Conviver exige dar-se a conhecer e conhecer o outro. Esse diálogo é que permitirá o aprender junto com o outro. O conviver pressupõe estar disposto a aprender, e o aprender pressupõe o conviver. O conviver estimula o aprender e o aprender estimula o conviver.

Parece simples, mas não foi essa a educação que recebemos. Em nosso sistema educacional sempre fomos treinados para a competição que, em seu extremo, tornou-se predatório, gerando a exclusão do outro e, por conseguinte, a convivência. E a convivência deu lugar ao isolamento, a busca do herói que resolve todos os problemas, e não precisa de ninguém.

Aprender a conviver é, ao mesmo tempo, cooperar e competir. A competição é saudável e necessária, bem como a cooperação. Pensemos por um momento: de que adianta sermos sempre competidores que não convivem e, portanto, não aprendem ou somente cooperadores que não colocam seu aprendizado a prova pela competição?

Para que a nossa vida possa ser melhor, e tenhamos gosto pelo viver, precisamos aprender a conviver. Para isso, não basta somente tomar conhecimento, mas também experienciar para que o aprendizado da convivência faça parte de nós, e venha a se tornar uma prática comum em nosso dia a dia.

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