BEBEDOUROS E COMEDOUROS NAS CALÇADAS: Uma Ação Solidária ou Um Problema Sanitário?
A água é uma das substâncias mais importantes para a sobrevivência, relacionada a diversas reações bioquímicas no organismo, essencial para absorção, metabolização e transporte de nutrientes e outras substâncias. No entanto, é também veículo de transmissão de várias doenças, sendo de extrema importância o cuidado com sua qualidade, antes do consumo ou o simples contato.
Sempre cito que a moda, sob diversas circunstâncias, é perigosa, fútil e efêmera.
Pois bem… É certo que a grande e exaustiva mobilização de grupos de pessoas, preocupadas com a situação de abandono de animais e o descaso público com este problema, nos últimos anos, vem levantando interesses, ora altruístas, ora dissimulados, em diversas empresas, políticos e organizações, com interesses reais em ajudar, ou escusos, autocentrados e especuladores, onde a simpatia torna-se alvo de grandes campanhas de marketing, abertamente declaradas ou sorrateiramente agindo numa espécie de inconsciente coletivo.
Pequenas ações individuais podem, somadas a um conjunto de outras várias ações em comum, realmente, fazer a diferença. O grande problema são as ações impulsivas e impensadas. Agir desta forma pode, por vezes, trazer mais problemas que benefícios comuns. E isto tem se tornado muito habitual. Não se pode querer resolver todos os problemas de uma sociedade de uma só vez ou sozinho. O que tenho visto acontecer em muitos casos, apesar de honroso e meritório a quem o faz, é o agregar de problemas. Querer fazer o bem, trazendo o risco para si e para toda uma sociedade é tão perigosos quanto querer salvar centenas ou milhares de um naufrágio em alto mar, trazendo todos a bordo de uma pequena lancha de passeio, ou querer cessar uma explosão, engolindo a bomba. Infelizmente, o acúmulo de animais, na tentativa de ajudá-los é um risco sanitário muito grande.
Outra ação – motivadora deste texto – que vem ganhando muitos elogios, principalmente nas redes sociais – onde as pessoas parecem adquirir um certo “esquecer do pensar” –, é o uso de comedouros e bebedouros de uso comum, nas portas de lojas. Esta atitude pode ser, a princípio, louvável… isso quando não se usa como mecanismo de marketing barato, com a finalidade de simplesmente atrair a atenção e simpatia pública, sem a real preocupação com a causa. Pode ser “bonito”, mas é igualmente de alto risco sanitário.
Como vimos no início deste texto, a água pode trazer o risco de transmissão de várias doenças. E os comedouros, igualmente. Quando o cão bebe desta água ou come uma porção de ração, pode contaminá-los com algumas das mais severas doenças, como a Parvovirose, Cinomose, Hepatite e muitas outras, devido à transmissão pela saliva liberada neste ato.
O uso de comedouros e bebedouros de plástico pode agravar – ainda mais – este problema, pois em exposição ao sol (calor + raios UV) causa a liberação de substâncias tóxicas na água, como o Bisfenol-A, os Ftalatos, o Estireno ou a Dioxina. O Bisfenol-A simula o comportamento do estrogênio, hormônio feminino, interferindo no funcionamento de algumas glândulas endócrinas, podendo também alterar a ação de vários hormônios. O estudo realizado com mamadeiras, denominado “Toxic Baby Bottles”, publicado pelo “Environment California Research and Policy Center”, revela que, mesmo em pequenas quantidades, esse produto químico pode provocar doenças, tais como: alterações do sistema imunológico, diabetes, hiperatividade e aumento da agressividade, infertilidade, obesidade e câncer da mama. O Ftalato é cancerígeno, pode também causar danos ao fígado, rins e pulmão. Estireno é uma neurotoxina. A Dioxina, uma substância altamente cancerígena e que se acumula no organismo, é teratogênica (causa má formação fetal), mutagênica (causa mutação genética) e pode causar danos ao fígado e vários outros transtornos ao organismo. Além de todo este agravante, o plástico pode abrigar uma infinidade de microrganismos em suas porosidades e ranhuras que dificultam sua perfeita higienização.
Ao sair com seu animal para caminhadas ou viagens, leve consigo um bebedouro portátil, facilmente encontrado em Pet Shops. Não permita que seu cão beba ou coma em potes ou utensílios comunitários, mesmo que pareçam limpos e bem cuidados. Uma boa ação, impensada, pode gerar um grande problema.