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Bolsonaro xinga, seus eleitores adoram.

            Realmente… nem tudo é o que parece. Ou, pelo menos, não produz o efeito que “obviamente” produziria. Na política, ainda mais. E quando se trata do presidente Bolsonaro, um pouquinho além, por incrível que pareça. Impeachment?! Queda na aprovação?! Sem chances em 2022?! Nada disso! 

            Eu confesso que andei falando menos sobre ele, principalmente quando se trata dos pronunciamentos, ações de comunicação ou relacionamento com a imprensa. Parei um pouco. Parei para não me tornar repetitivo e para não parecer tão óbvio. Afinal, todo mundo já sabe e vê o que acontece. E pior: cada um já interpreta os fatos da forma que quer, que melhor lhe convém e que mais agrada. Então… adianta falar sobre isso? 

            Mas aí, apesar de tudo isso, surgiu no horizonte um novo e bom motivo para voltar a escrever sobre tais episódios. E é exatamente um fato que muitas pessoas ainda não perceberam: quando o presidente Bolsonaro xinga alguém da imprensa é ótimo para ele. Este último caso – da irritação com o repórter do Globo, talvez seja a resposta derradeira para isso. 

            Quando o presidente fala vários palavrões, é ótimo para ele. Quando tem um momento mais áspero, menos diplomático ou com certa estupidez, é ótimo para ele. As pessoas adoram! E adoram tanto, que já saiu até vídeo fake por aí mentindo sobre a pergunta que teria sido feita pelo repórter do Globo. 

            Portanto, quando você ouvir alguém dizendo que “é isso aí”, “votei nele para isso mesmo”, “Bolsonaro tem razão”, saiba… é a mais pura verdade. Porque quando o presidente Bolsonaro fala isso, ele fala com o seu próprio eleitor. E é exatamente esse tipo de coisa que os seus eleitores – principalmente aqueles mais fiéis – esperam dele, aconteça o que acontecer. Ficam ansiosos pela próxima briga, para o caldo engrossar e alguém ser “desancado”, como se diz. E sabe por quê? Porque, em muitas oportunidades, é exatamente isso que cada pessoa dessa gostaria de falar. Eles se sentem representados – e muito bem representados – pelo presidente que ajudaram a eleger com muito gosto. E reafirmo: não há nada mais natural do que isso. 

            Se Bolsonaro mudasse o tom, esquecesse seus problemas com a imprensa e transformasse sua personalidade nesse tipo de relação, perderia apoiadores. E não me refiro a qualquer apoiador, mas sim aqueles soldados mais dedicados do seu exército particular. E é claro que também há muita gente que fica extremamente enojada com tudo isso, que é contra, que perde a paciência, que fala até em impeachment. E não adianta, não vai ter impeachment. Pelo menos não agora, quando até o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já afirmou nesta semana que não há qualquer clima para aceitar esse tipo de processo e que o foco é total na crise econômica gerada pela pandemia. E ele está certo. Desde os tempos de Collor, o brasileiro ficou muito (mal) acostumado a querer derrubar presidentes de alguma forma pelo simples fato de não gostar ou não concordar com suas atitudes. Mas ainda vivemos em uma democracia. Ainda. E nela, quem tem a maioria, vence. E, gostemos ou não, o presidente Bolsonaro a teve nas últimas eleições. Se ainda tem, eu não sei. Mas, de qualquer forma, continua cuidando muito bem de quem continua abraçando sua causa a qualquer custo.