Capítulo 15 – Convidado A Me Retirar … EXPULSO!!!
A repetição da sexta série no CMBH teria tudo para ser diferente, não fosse a piora do meu comportamento estudantil e pessoal.
Nesta época, iniciei o ano com várias situações diferentes.
Minha fuga para os sentimentos internos de frustração quanto à reprovação do ano anterior, a auto-estima esmagada por me sentir fracassado e a lacuna interna por questões não respondidas sobre a minha origem paterna, endereçava-me cada vez mais para as amizades do bairro e as tardes de lazer com eles.
Cada vez mais gastava horas soltando papagaios, jogando bola, indo à Vila Olímpica para assistir os treinos do Atlético Mineiro ou simplesmente vagando pelos bairros próximos, conhecendo novos lugares e amigos.
Os estudos ficaram definitivamente relegados à segundo plano. Minha relação com os meus pais se complicava a cada dia, e de certa maneira, eles baixaram a guarda e tentaram ver no que daria.
No colégio minha situação comportamental em nada mudaria, aliás, meus problemas disciplinares apenas aumentaram. Brigas, conversas demasiadas em sala de aula que me levaram a ser encaminhado para o gabinete do capitão diversas vezes, e com isso sucessivas detenções nos finais de semana.
“Matava” aulas e ficava vagando pelo campus do CMBH de forma aleatória e sem sentido. Lembro-me de uma feita, na qual fiquei observando um papagaio que desfilava suas destrezas aéreas, bem conduzido por algum garoto que o manipulava. À época o cerol utilizado nas linhas não era tão combatido como hoje, e por assim ser, aquele papagaio simplesmente “limpava os cèus” contra todos aqueles que ousavam enfrentá-lo em uma “tosa”.
Abandonei as aulas, subi em direção à Caixa Dágua do Colégio Militar, no alto de um Morro, fiquei ali pelo menos umas 4 horas olhando as peripécias daquele que reinava absoluto nos ares, imaginando que a qualquer momento alguém pudesse vencê-lo e, “tosando-o”, permitir que ele se tornasse de minha posse, caso eu conseguisse recolhê-lo após a sua queda.
Diversas competições ocorreram entre o garoto que operava aquele papagaio e outros que tentavam cortar sua linha, sem sucesso. As horas se passavam e eu ali, olhando para o alto, enquanto as aulas tinham sua sequência.
Terminado o período das aulas, após ao meio dia, eu ainda estava lá, com fome, mas com a firme disposição de esperar que o papagaio fosse derrubado. Por volta de duas da tarde isto ocorreu da forma mais estranha possível. Aquele garoto por algum motivo teve a sua linha quebrada próximo às suas mãos, e aquele objeto voador identificado e do meu desejo, veio lentamente se deslocando, solto ao vento, em minha direção. (Continua)